sábado, 25 de dezembro de 2010

Tarefas do ano novo

Estamos no mundo, mas o mundo inteiro está dentro de nós. Somos o ponto de partida. Quando paramos por um instante, percebemos que de nós dependem todas as ações, toda iniciativa e toda a direção que possamos dar à nossa vida. O mundo é a interpretação que damos a ele, aos fatos e situações a partir de nossas convicções, princípios e percepções. As coisas que fazemos são, em última análise, para proporcionar a nossa própria felicidade, mesmo que por vezes se confundam com uma atuação externa e voltada para diferentes interesses. Quando o nosso bem estar coincide com o bem estar dos demais, então temos o milagre da harmonia. Se eu não quero, até que eu mude de ideia, nada irá acontecer. Somos os protagonistas de nossa história. Ocupamos nada mais do que o nosso lugar neste mundo. E se não ocupamos, ainda há tempo para fazê-lo, porque esse lugar está vago, esperando por nós. Ninguém conseguirá ocupá-lo confortavelmente, porque ele tem o nosso específico formato. E não adianta atribuir a alguém ou algo as responsabilidades pela nossa própria felicidade, por mais que muitas vezes sejamos tentados a isso. Há coisas que são tão supérfluas que nem deveriam ser consideradas, mas que desviam do caminho original. Vaidades pessoais que representam a contramão de uma possibilidade.
Há tantas tarefas a serem desempenhadas, tantos planos a serem realizados, projetos a se concretizarem.
Quando fizeres algo, empenha tua alma nisso. Dedica tua vida, tuas horas de sono e de descanso. Não precisa ser chato a ponto de ninguém mais te aguentar. Mas seja tão verdadeiro que as coisas venham até onde estás, que te procurem as oportunidades. Acredita que tua ideia é a que é possível e o que há de concreto. O inesperado e o infortúnio não podem atrapalhar, porque contornáveis. Confie na intuição. Ela não tem explicação e nem lógica, mas é o caminho que tua alma conhece. Nem tudo se explica neste mundo.
O sucesso te espera nesse ano novo que desponta! Feliz 2011!!!

Uma alma enfeitada

O Natal deste ano parece estar um pouco diferente. Talvez não tenha me empenhado como nos outros anos em decorar a casa e o ambiente de trabalho com as coisas de Natal. Estive pensando, onde está o espírito natalino quando simplesmente compramos o enfeite pronto ou um objeto e o colocamos em algum lugar apenas para cumprir um compromisso? O que era bonito e nos dava ânimo, em nossa infância, era toda aquela preparação, aquela ânsia de chegar a data tão esperada. E junto com ela, muitas histórias, muitos mistérios... Fazer o pinheirinho... Eu disse “fazer”. Sim, havia todo um ritual envolvendo o “fazer o pinheirinho”: encontrar uma árvore adequada, adaptá-la ao lugar disponível, procurar as “bolinhas” e o presépio que desde o ano passado estavam guardados lá em cima do guarda roupa da mãe, e ai se alguém mexesse nele durante o ano. O cheirinho do cipreste, usado quando não havia pinheiro, as espetadas nas mãos, o suor escorrendo nos rostos empolgados de tanta animação, tanto trabalho... Como acomodar tantos enfeites numa única árvore? E depois de pronta, ficar caminhando em volta dela, só admirando o resultado. O tempo até parava.
Claro que é lindo e maravilhoso ver uma decoração natalina bem feita e harmoniosa, senão ninguém iria a Gramado e Canela para ver tanta beleza. Mas a “beleza” é linda na medida em que toca o coração da gente e das pessoas que nos são queridas. Assim, os encontros de final de ano, mais do que cumprir um compromisso são um momento de reaproximação e convívio entre aqueles que passaram o ano todo lado a lado, sem conseguir de fato parar um pouco para uma conversa, uma risada, um olhar mais próximo. É o calor da alma das pessoas que faz um Natal feliz. Aquela presença sentida e não só um contato superficial ou corriqueiro, mas as lembranças dos bons momentos e a esperança de que haja muitos outros, aquela vibração que sai do silêncio do coração e vai encontrar o outro Que neste Natal possamos enfeitar, além de nossas casas e festas, a nossa alma com sentimentos de amor, solidariedade, paz e harmonia, porque isso ficará vivo para sempre dentro de nós e das pessoas que queremos bem.

A família não quer olhar para si

O que está acontecendo com nossos jovens e nossas escolas? Fogo na Escola Genuíno Sampaio, de Sapiranga; um professor morto a facadas por um aluno em sala de aula, em Belo Horizonte; tráfico e consumo de drogas dentro do pátio de uma escola. O que mais podemos esperar? Alunos que enfrentam os professores e colegas dizendo que “não dá nada”... Ouvi o relato de uma professora, de que um aluno conta como vantagem que o pai o incentiva a reagir, a revidar em caso de ser agredido. O problema é que este aluno já sai batendo nos outros, mesmo sem ter sido agredido. Que prevenção é esta de agredir para não ser agredido? Muito já se comentou, estudou e constatou sobre o papel da família na educação e formação da criança. A família é o primeiro ninho, a primeira escola, o espelho que dará a dimensão da interação da criança e do jovem com o mundo. Quando a família falha, de alguma maneira, perdeu-se a primeira chance de socialização adequada.
Existe uma crença (ou seria crendice?) de que a crianças e jovens nada acontece em caso da prática de algum delito. Contudo, não é bem isso que diz a Lei. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê em seu artigo 112 que “verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: advertência; obrigação de reparar o dano; prestação de serviços à comunidade; liberdade assistida; inserção em regime de semi-liberdade; internação em estabelecimento educacional; encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; orientação, apoio e acompanhamento temporários; matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente; requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; acolhimento institucional; inclusão em programa de acolhimento familiar; colocação em família substituta.” Também refere a lei que amedida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração. Porém, em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho forçado.
Quando a família delega à escola a obrigação de educar, mas tira do professor toda a autonomia necessária colocando-o na posição de subalterno perante o aluno que “tudo pode, pois não dá nada”, corre o risco de ao invés de formar cidadãos, entregar à sociedade "elementos".
É triste, mas é verdade.

Teóricos & práticos

Dizem que não se casam muito bem. Os teóricos conhecem toda a explicação, toda a doutrina e todas as comparações. Sabem como fazer a partir do que estudaram, e isso lhes dá uma boa dose de certezas. Os práticos, teoricamente, seriam aqueles que realizariam concretamente o que lhes foi ensinado na teoria e também aquilo que descobriram “na prática”, por experiência própria. Sabem fazer porque, de tanto que já fizeram, aprenderam na marra. Assim sempre foi feito e assim sempre será.
Na teoria tudo tem jeito, tudo deveria funcionar bem, se cumpridos os pressupostos. Mas na prática, nem sempre é assim. Há ocasiões em que só usando um sexto sentido ou um recurso diferente se consegue obter um resultado. Tem indivíduos que só se dedicam a teorias. Para eles não é possível algo não dar certo se forem seguidas todas as instruções. Experimente dar um controle remoto diferente para um teórico. Ou um aparelho qualquer. Ele vai seguir todas as instruções e se não funcionar vai buscar mais informações ou fundamentos, a fim de entender o que está se passando. O prático vai fuçar até que descubra o segredo. Vai tentar procurar alguma coisa que lhe dê uma pista por comparação e se não encontrar, vai inventar algum... atalho. A teoria é como uma equação matemática onde quatro é a soma de dois mais dois. Mas pode ser também a soma de três mais um. A prática aconselhada pela teoria faz bonito. E vice versa. Mas poucas vezes uma se deixa influenciar pela outra. Ambas estão convictas, concentradas em seus atributos. Os práticos alegam a experiência, os teóricos o conhecimento. No entanto, é pela junção dos dois que o mundo progride.

sábado, 20 de novembro de 2010

Coração, juventude e fé...

O estudante é alguém por dentro do que acontece no mundo. Quem não estuda está “por fora” de tudo. Foi mais ou menos isso que ouvimos, meus colegas de 8ª série e eu, de uma professora, no final dos anos 70. Naquela época a obrigatoriedade do estudo era relativa e por isso havia alguns jovens que às vezes se desviavam e sem mais nem menos, abandonavam a escola. Uns para ir trabalhar, outros para fazer nada ou sabe-se lá o que. Mas a professora tinha visão e procurava incentivar os alunos a concluírem seu aprendizado. Para a maioria, porém, nem passava pela cabeça a ideia de não mais frequentar as aulas. Tinha-se uma convicção de que estudar era a única maneira de ser alguém na vida. Para muitos, era mesmo. E nos apegávamos com unhas e dentes à oportunidade de poder estudar numa escola pública, mesmo com todas as dificuldades que havia.
Hoje, a lei é bem mais severa e existe punição aos pais que não mandam seus filhos menores à escola. Com isso, busca-se uma valorização da educação.
Mas a alma dos jovens é diferente. Sempre foi. Tem sede de futuro, anseia por novas experiências, quer protagonizar mudanças e conquistar a independência. Tem fé na humanidade. Por vezes, deseja se rebelar, desviar o seu destino.
A questão é que nem sempre damos o devido valor às coisas, na hora em que as estamos vivendo. Assim, o arrependimento de não ter estudado pode aparecer muito tempo depois, um longo tempo, que poderá até ser recuperado, mas que foi preciosamente perdido...
A vida é uma escola e passamos o tempo todo aprendendo. Porém, a frequência a um lugar em que a realidade é atualizada e esmiuçada diariamente, onde mestres e alunos convivem num ambiente de companheirismo e camaradagem, dividindo percepções, idéias e opiniões e, porque não, sonhando com um futuro melhor, só vem a enriquecer a vida. É a magia do saber... Talvez porque o estudante se sinta em igualdade de condições com seus pares. Todos com objetivos a alcançar. Amizades que se leva prá vida. Lições que podem frutificar. “E há que se cuidar do broto, prá que a vida nos dê flor e fruto...”

“Sim, a mulher pode!”

Independentemente de ter ou não ter votado nela, não dá prá negar: é um orgulho para a classe feminina uma mulher ter se tornado presidente do Brasil. A primeira a chegar lá. Apesar de toda a polêmica em torno de sua candidatura ela soube tirar de letra a situação e alcançou o mais alto cargo/posto político da nação. Enérgica e decidida, talvez tenha frustrado a expectativa de quem esperasse um tratamento mais ameno, por se tratar de uma mulher. Talvez os eleitores esperassem uma senhora simpática e cheia de reverências, no alto de seus sessenta e poucos anos. O fato é que Dilma, a presidente eleita, mostrou ser muito mais do que uma simples candidata a um cargo político. Resolveu vestir a camiseta e apresentar ideias e propostas concretas, dizer sua opinião e manifestar sua vontade de governar o país. Criticada por alguns pela falta de tato, disciplinou-se e encontrou a sua maneira de lidar com o público.
Aliás, é interessante como às vezes se espera o desempenho de uma mulher: que seja profissional só até onde não venha a ferir os brios de uma sociedade, ainda não muito acostumada com a mulher em posição de comando. E uma mulher que expressa livremente suas opiniões e opções e, mais do que isso, vai à luta mostrando que sabe o que quer, então, pode ser um perigo! Deixando de lado considerações acerca do feminismo, o episódio das eleições foi algo desafiador. Ninguém sabe muito bem como serão os próximos quatro anos. Como ninguém poderia ter certeza, se fosse vencedor o outro candidato. O tempo é o senhor da razão, já disse alguém outrora. Mas a fibra e a coragem desta mulher que venceu inclusive uma doença deverão ficar gravadas na memória dos brasileiros e brasileiras. O ineditismo de sua conquista também. Seus desafetos continuarão a minimizá-la, seus correligionários e apoiadores a admirá-la. Afinal, ninguém consegue agradar a todos, sempre. Porém, a grande maioria do país tem esperança nela. Uma coisa, no entanto, é certa: a mudança de quase tudo aquilo que reclamamos e achamos ruim passa pelo Congresso. E quem coloca esse povo lá somos nós.

Talento de primeira

Há 60 anos, precisamente no dia 04 de novembro de 1950, nascia em Sapiranga, Arione Regina de Oliveira, irmã do Ari, filha da Nelcila e do Ervino Ermel. A origem do nome “Arione” é grega e significa aquele que tem energia, “Regina” vem do latim e significa rainha, e “Oliveira” é uma árvore que nos alimenta. Atributos facilmente encontrados nesta sapiranguense de coração.
Seu grande desejo, desde pequena, era poder desenvolver o talento musical, que já era nato. Mas a família não tinha condições de transformar as aulas de piano com a Gessi Dresch em um futuro profissional. Eis que, então, o destino dá uma “mãozinha” e seu Ervino acerta na loteria. Com o dinheiro do prêmio puderam comprar um piano. Definitivamente estava dado rumo à vida da Arione, que se formou em música na UFRGS, em Porto Alegre.
Arione deu aulas na Escola Evangélica de Ivoti, junto com o famoso professor Naumann. Mais tarde, ajudou Terezinha Cardona a estruturar a Fundarte de Montenegro. Guerreira, morava em Porto Alegre e ia dar aulas nestes lugares, grávida, encarando longas viagens de ônibus, chovesse ou fizesse sol.
Na adolescência fez parte da Juventude Evangélica de Sapiranga, onde os amigos eram muito unidos. Realizavam passeios, acampamentos, serenatas, estavam sempre juntos, nem que fosse para ficar sem fazer nada. Foi ali, na Juventude, que Arione conheceu o Nelson de Oliveira, com quem se casou e teve seus três filhos (Ana Amélia, Fernanda e o primogênito Gustavo).
Ainda na adolescência, Arione e mais a amiga Vera Schoenardie, que colaborou com estas informações, passaram parte de suas férias nas Aldeias Cristãs SOS, fazendo um serviço voluntário numa das casas. Aliás, coube à Arione a árdua tarefa de tentar ensinar um pouco de música à Vera, através da flauta. Segundo a própria Vera, parece que foi um de seus raros fracassos...
Evento memorável para a amiga Vera foi a entrada, ao som de Beethoven, do casamento com o Eurico, tocada pela Arione no maravilhoso órgão de tubos da igreja evangélica de Sapiranga.
Durante alguns anos, Arione morou em Campina Grande, na Paraíba, para onde o marido foi transferido pela empresa Azaléia Calçados. Bons tempos de riqueza musical naquelas paragens.
Voltando ao sul, Arione assumiu a regência do coral da Azaléia, quando morava em Parobé. Já naquela época era bem envolvida na comunidade, sempre ajudando na parte da música.
Arione também foi professora na Escola Evangélica Duque de Caxias, em Sapiranga. Nos últimos anos tem se dedicado às aulas particulares de piano, tendo revelado alguns talentos especiais, como o Luiz Carlos Klein Junior (Tuta).
Participou também das filmagens do longa “Jacobina”.
Arione gosta de desafios, como mostra sua biografia. No momento encara, com coragem, a tarefa de ensaiar e botar ordem no Grupo Vocal “De Boca Aberta”, composto por amigas que se reúnem semanalmente para cantar, e que eventualmente se apresentam em eventos musicais da cidade e arredores.
Tolstoi tem uma frase muito apropriada: “Se queres ser universal, fala da tua aldeia". Muitas vezes os talentos locais são pouco lembrados, mas na verdade são pérolas que se encontram muito perto de nós e às quais é preciso dar o devido valor. Arione tocando, cantando e ensinando em Sapiranga é um talento de primeira grandeza.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

E o que falta?

Você já inventou de tudo. Academia, viagens, carro novo, roupas da moda, uma decoração ultramoderna, TV LCD, mídias de última geração, o filme do ano visto em primeira mão. Mas lá no fundinho, parece que falta alguma coisa, existe algo inexplicável que não deixa você se sentir 100% feliz. Também já sorriu tanto, já falou tanto, já encontrou Deus e todo mundo, e ainda assim parece que a solidão está lhe fazendo companhia. Já cumpriu todos os seus deveres e compromissos, trabalhou, dedicou-se à família, arrumou um passatempo legal, divertiu-se numa festa, mas chegou um momento em que parece que há mais alguma coisa a ser feita e você não sabe o que é. Vou lhe contar um segredo: tem mesmo algo a ser feito.
Na vida é preciso objetivar alguma coisa que nos traga uma realização maior do que o dinheiro e aquilo que ele pode comprar. Lógico que dinheiro é importante e necessário (e como!). Mas me refiro àquilo que preenche o nosso ser de alegria, da sensação de missão cumprida. Daquele sorriso que por si só é uma recompensa valiosa. Alô, atenção: não falo de simples assistencialismo. Considere a hipótese de aplicar um pouco do seu talento e aptidão em benefício do próximo sem esperar retribuição. Há situações em que nos sentimos úteis, mesmo que façamos pouca coisa. É porque temos a opção de fazer ou não e escolhemos fazer. O trabalho dignifica e enobrece. Detalhe: quando deixamos de vender, por um momento, nossa força de trabalho e nos doamos a alguma causa ou a alguém, nosso ser inteiro participa.
O voluntariado põe à prova nossas verdadeiras capacidades, pode nos tornar uma pessoa de bem com a vida, não só por ajudar alguém, mas também e porque não, por abrir novas perspectivas, novas vivências e experiências. E por um desses mistérios da vida, aquele que se doa recebe também. Ganha com a oportunidade de viver situações diferentes, conviver com outras pessoas, aprender a ser criativo, solidário, aprender, aprender e aprender...
E com tudo isso, certamente aquela sensação estranha de que falta algo será substituída pelo prazer de sentir-se útil. Acrescente-se a satisfação de participar de uma melhora na qualidade de vida da comunidade, mobilizando energias e recursos dentro de suas possibilidades e de forma responsável. O que mais falta?

A baixaria tomou conta

O assunto é do momento e todo mundo fala, todo mundo critica e dá palpite. Há duas opções políticas que se apresentam para essas eleições presidenciais, para nossas considerações e análise, no intuito de conquistar nosso voto. Pena que a baixaria está correndo solta no segundo turno. E a tendência é piorar. Não só os candidatos, mas a militância cega de ambas as partes fazem coisas de espantar até cavalo manso. Somos literalmente bombardeados todos os dias com “notícias”, lembretes, dossiês, acusações, fofocas, estatísticas com procedência duvidosa e conselhos de todos os tipos. Uma grande parte deles anônimos. A coragem de expor uma idéia acaba antes de o autor assiná-la.
A mídia tem um poder tremendo de influenciar a sociedade. Mas que uso tem feito os candidatos? Ao invés de utilizarem os espaços gratuitos com campanhas institucionais ou educativas e esclarecedoras, quem sabe propostas concretas, o que se vê é uma pauta voltada a derrubar o outro de qualquer maneira. Aliás, espaço gratuito para eles, porque quem paga é o contribuinte, ou seja, nós. Sem falar nas altas cifras, o dinheiro que rola, em matéria de compra de votos, favorecimentos, marketing de primeiro mundo. Melhor nem falar nisso.
Seja por seu passado, seja por suas convicções uma avalanche de hipóteses são levantadas se este ou aquele for eleito. Capacidade, competência, interessa a alguém? Pensemos: se um aluno está para se graduar com distinção no ensino superior, porque desenvolveu um trabalho que lhe rendeu uma boa nota, e aí aparece em seu histórico uma observação de que ele foi reprovado no primeiro ano do ensino médio porque “colou” em uma matéria, deverá ser impedido de se formar? É esse o raciocínio a que está sendo induzindo o eleitorado, em alguns momentos das campanhas.
Enquanto dermos ouvidos e atenção a esse jogo infernal que se estabeleceu a título de campanha, mais difícil será ensinar aos nossos filhos e nossos jovens a importância da cidadania. E esperar que as pessoas acreditem na política é quase uma ilusão. Difícil falar nisso, porque ninguém mais quer ouvir. Todos estão cansados de ver o roto falar do rasgado. Entre nós, respeitar posições e convicções políticas sem perder a amizade, é possível ainda? Aguentar uma opinião contrária, é viável?
Outra questão polêmica: tudo é possível, realizável e imprescindível no reino encantado das promessas. Sabe quando alguém procura um emprego novo e não sabe exatamente o que vai fazer? É nessa hora que a coisa se complica. O candidato, na ânsia de agradar, sai fazendo promessas de tudo que é tipo. Mal sabe ele as demandas que irão aparecer. Então, penso que a única promessa que se possa fazer é a de trabalhar, ser ético, sério e enfrentar todas as questões que surgirem com decoro, dignidade e compromisso.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A rosa e a vassoura...

Uma caminhada no valão sempre tem seu valor. Nem que seja para despertar o bom humor. Encontrei duas amigas e fomos, de conversa em conversa, reparando na sujeira das ruas e da frente das casas. Com a proximidade da festa das rosas, isso nos chamou a atenção e, como estávamos resolvendo os problemas do mundo mesmo, o diálogo que se estabeleceu mostra as conclusões a que chegamos:
- Se cada um cuidasse da frente de sua casa, tudo se resolveria. Simples assim! Bem que algum jornal poderia aderir e promover esta campanha...
- Se o poder público nada faz, que cada um faça um pouco mais e pronto: a cidade poderia ficar com um aspecto melhor.
A essa altura do campeonato (ou da caminhada) tivemos outra ideia:
- E se fundássemos um partido só de mulheres? Tudo iria funcionar na base da vassoura. Inclusive o símbolo do partido poderia ser uma vassoura.
E a outra já lança a sugestão:
- Numa das mãos uma vassoura e na outra uma rosa. A rosa e a vassoura.
Não consigo deixar de fazer mais um trocadilho:
- Frente limpa na calçada e ficha limpa na política, coisas que só uma boa “vassoura” pode conseguir.
- Mas não se esqueça da rosa, símbolo da cidade, para amenizar as atitudes e perfumar as intenções.
Sim, eu sei que todos pagam impostos e esperam em contrapartida uma prestação de serviços adequada. Mas antes que a população queira me bater ou mandar eu mesma capinar a frente de suas casas, gostaria de dizer que a cidadania é mais do que só ficar esperando. Às vezes, é preciso agir. O que é público é de todos, ao contrário do que muitos pensam, de que o que é público não é de ninguém. Assim, não custa cuidar e manter limpa a parte da rua na frente de nossa residência ou local de trabalho. Muitos já estão fazendo isso. Não basta só esperar, é preciso agir também. Nem que seja capinando a frente da nossa casa.
P.S.: contei esta historinha para o diretor do Jornal A Opinião e antes que comece aquele jogo de empurra entre cidadão e prefeitura, ele resolveu lançar a campanha “Frente Limpa”, visando conscientizar a população de que o que é publico é de todos, ao contrário do que muitos pensam, de que a limpeza urbana é algo que depende de todos. Se todos resolverem colaborar vai ficar bem bonito.

E viva a diferença!

Recentes estudos demonstram que não existe um só tipo de inteligência. Pelo contrário, verifica-se que o ser humano tem diferentes aptidões e que a inteligência não pode ser medida apenas por um índice, como no caso da aptidão para lógica e matemática, que sempre foi o padrão usado pelos testes de QI.
Sendo assim, o tratamento dispensado não deve ser igual para todos, mas respeitadas as diferenças, o tratamento será diferenciado também. Como lidar da mesma maneira com uma criança que é superdotada e uma que sequer consegue pronunciar as primeiras letras? Não é discriminação, mas uma tarefa de inclusão. Ou seja, a criança com dificuldades precisa de uma atenção diferente, pois do contrário ela não conseguirá assimilar o mesmo conteúdo que as outras e nada aprenderá. Também a criança considerada superdotada necessita de uma abordagem de acordo com sua capacidade, senão corre o risco de se desestimular, pois já está em outro estágio de aprendizagem. Os professores é que sabem disso. Uma reflexão sobre o assunto, interessante e nem tanto novo, serve para afastar o pensamento de que o mundo é dividido apenas em dois setores: o dos inteligentes e o dos ignorantes.
Hoje se sabe que cada pessoa é dotada de diversas inteligências, e que poderá desenvolver mais ou menos um tipo, dependendo de sua capacidade e formação. Tem aqueles que nascem com habilidade para as artes e jamais conseguirão se interessar por finanças ou coisas do gênero. Mas isso não quer dizer que não serão capazes de elaborar um orçamento doméstico. Há outros para quem só os números, com sua exatidão, explicam o mundo. Esses, contudo, poderão ter também uma sensibilidade musical bastante acentuada. Os que se saem muito bem na oratória e na diplomacia, poderão apresentar também desenvoltura nos esportes ou em outra área. A escola, a família e o meio em que vive poderão influenciar ou fazer a pessoa adquirir mais tipos de inteligência.
Segundo o professor Howard Gardner, da Universidade de Harvard (EUA) existem sete tipos de inteligência: a corporal, verbal, auditiva, racional, espacial, intrapessoal e interpessoal. Todas elas podem estar presentes numa só pessoa, em maior ou menor grau.
A importância disso tudo é que, paradoxalmente, aprender a lidar com as diferenças torna o mundo mais igual.

domingo, 3 de outubro de 2010

Só lendo...

Morro e não vejo tudo. Assistindo a um programa jornalístico matinal na semana que passou, quase não me espantei com a notícia em si: um deputado estadual do estado de São Paulo foi flagrado negociando propina. Isso, infelizmente, já se tornou rotina. O deputado (já seis vezes eleito!) foi filmado por uma câmera escondida por um secretário municipal, enquanto recitava cifras milionárias que estariam sendo utilizadas para barrar processos ou prisões de outros políticos. No vídeo, o deputado revela que a Assembléia Legislativa “devolvia” parte do dinheiro que sobrava de seu orçamento, sendo tais valores repassados, segundo ele, para agentes do Ministério Público e desembargadores como forma de pagamento de “favores”. E ainda gabava-se de que estaria fazendo o possível para ajudar tais pessoas (os criminosos). Para livrar a cara de sujeitos com ficha suja, o valor era inegociável (em torno de 300 mil reais), sob pena de não conseguir “segurar a barra”. Na sequência, a reportagem mostrou depoimentos dos envolvidos, que, obviamente, além de negar tudo se ameaçaram mutuamente de calúnia e difamação.
Mas o melhor, ou o pior de tudo, é o que veio a seguir. O tal deputado, diante dos microfones e câmeras, segurava um papel entre as mãos e lia para a imprensa o seguinte comunicado: - “Jamais cometi qualquer crime ou desviei dinheiro...” Geeeeentee!!! Ele estava lendo! Precisava ler uma frase básica dessas? Não bastaria olhar para os repórteres e para o público e simplesmente dizer estas palavras? Ou será que a frase era tão difícil de pronunciar? Certamente o tal político, já sem um mínimo de senso moral ou ético, teve receio de engasgar-se na própria mentira e para garantir a pose, não teve dúvidas: ler é o melhor remédio. Quer dizer, zero no quesito sinceridade. E um duplo zero no quesito honestidade.
Tem algumas pessoas da classe política que continuam pensando que o povo é palhaço. Mas o povo tem uma arma que se não aprendeu a usar, está mais do que na hora de aprender. Esta arma é o voto. E voto consciente não pode ser artigo raro no mercado. Deve ser o trivial, o mais procurado e o mais encontrado. É a nossa chance de reverter este quadro terrível que vislumbramos todos os dias nos noticiários, envolvendo denúncias e crimes de corrupção. Não vamos nos omitir. Não vamos dizer “tanto faz”, “não posso fazer nada”. Podemos sim. Podemos votar, fiscalizar e cobrar dos eleitos tudo aquilo que prometeram fazer e também aquilo que não prometeram, mas fizeram contra o cidadão. Neste domingo, lembre-se que votar é mais do que um dever, um direito do cidadão.

sábado, 25 de setembro de 2010

Nosso Lar

Você já sentiu algum dia na vida que está desviado de sua missão? Aliás, você já sentiu algum dia que tem uma missão? Não precisa ser religioso ou ter fé para ponderar sobre isso. Ou você jamais se questionou sobre o assunto e nem pretende fazê-lo? Bem, é uma escolha e ainda bem que todos são livres para apreciar como quiserem.
O filme Nosso Lar fala de um lugar onde a alma descansa. Verdades ou conceitos universais diluídos ou incrustados em histórias de cinema não é novidade. Avatar é outro filme que traz isso, porém de uma forma mais lúdica. Sua aceitação parece ter sido maior do que Nosso Lar, pois este último é visivelmente voltado à doutrina espírita e a questão religiosa como pano de fundo sempre deu origem a polêmicas.
Coincidentemente ou não, esta semana recebi um e-mail que trazia um diálogo entre o teólogo brasileiro Leonardo Boff e Dalai Lama, num intervalo de uma mesa redonda em que ambos participavam, sobre o tema religião e paz entre os povos. Leonardo Boff pergunta, com certa malícia, ao líder religioso tibetano: “qual é a melhor religião?” Esperando ouvir dele um elogio ao budismo ou às religiões orientais, o teólogo surpreendeu-se com a resposta: “a melhor religião é a que mais te aproxima de Deus, do Infinito. É aquela que te faz melhor.” Ainda perplexo Boff pergunta: “o que me faz melhor?” A resposta do Lama: “aquilo que te faz mais compassivo, aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável... Mais ético... A religião que conseguir isso de ti é a melhor religião...” Diz Leonardo Boff que se calou maravilhado e que até hoje está ruminando a resposta sábia e irrefutável.
Um portal e um homem. É de missão e de recomeço que fala o filme Nosso Lar, baseado no livro do mesmo nome, de autoria de Chico Xavier. Não pretendo entrar no mérito religioso do assunto, penso que a principal mensagem do filme é essa mesma de que temos uma missão nesta vida e se não nos colocarmos a caminho para realizá-la, não conseguiremos alcançar a felicidade.
Aquela mensagem eletrônica de que falei antes ainda conclui: “o Universo é o eco de nossas ações e nossos pensamentos.” E eu, humildemente, acrescento que o significado de missão tem bastante ligação com a consciência de cada um.

domingo, 19 de setembro de 2010

A baleia e o tigre

Sonhei de novo. E desta vez minha amiga holística não está por perto para me ajudar. Recorro a internet. Ridículo. As teorias sobre os sonhos mais confundem do que ajudam. Aliás, o que vale nos sonhos é a sensação que despertam. Sonhei que uma baleia vinha em minha direção. E vinha saindo do mar e entrando numa espécie de barco onde eu estava. Via ela claramente. Tentava fotografá-la em vão. De repente ela se transformou num tigre que ficava sentado no barco me olhando. Novamente tentei fotografar, mas não consegui. O tigre continuava me observando. Acordei meio impressionada com a baleia e o tigre e a forma como apareceram no meu sonho. Encontrei um site que dizia ser a baleia a representação de parte da alma que não se conhece e a ligação com a parte conhecida. Intuição, capacidade de entender as coisas da vida. Forças emocionais mensageiras das dimensões espirituais. Uau! Se a baleia no sonho era tudo isso não sei... Já o tigre representaria inimigo invejoso e cruel ou perigo. Um aviso para não se deixar dominar por fortes impulsos. Uau de novo! Se devo acreditar nisso tudo, também não sei. Mas sonhos são engraçados, porque causam uma emoção na gente na hora em que acontecem. Por que ficamos sempre com a impressão de que querem nos dizer alguma coisa? Será porque estamos sempre em busca de algo que nos revele um pouco de nós? Estamos meio desconectados de nós mesmos e precisamos de uma indicação de caminho, um rumo, uma explicação talvez? Pois é. Se vamos apenas acreditar no que os manuais de sonhos dizem, não vamos muito longe, porque fica limitado a significados preestabelecidos. Como por exemplo, ficar a imaginar quem seria o tal de inimigo cruel e invejoso. Vai ver, vamos eleger algum desafeto para pagar o pato. Mas se nos permitirmos entrar dentro de nós, mergulharmos fundo em nosso interior, quem sabe não descobrimos algo? Na pior das hipóteses podemos nos confrontar com medos e inseguranças que nos acompanham e nos dificultam a vida. A baleia e o tigre do sonho eram animais grandes e selvagens. Como grandes e selvagens podem ser alguns de nossos sentimentos. E se esses sentimentos que fogem ao nosso controle tiverem tomado a forma de animais apenas para nos mostrar como nos posicionamos diante deles e como nos assustamos com eles? O fato de tentar fotografá-los e não conseguir pode representar o esforço de tentar compreende-los e a dificuldade de captar seu significado. Não sei. Sei apenas que alguns sonhos me impressionam. Ficam na minha lembrança por um dia inteiro. Até que resolvo parar com tudo e pensar, pensar e pensar... Percebo então que não é no sonho que está a resposta, mas na vida real. Que sonhamos com aquilo que vivemos, não importa a forma que tome nos sonhos. Nosso subconsciente é inteligente e abstrai tudo que nos acontece. Grava, recorda, analisa, interpreta e nos devolve em forma de sonho. E aí, durma-se com um barulho desses. Quer dizer, entenda-se os sonhos a partir de nossas próprias experiências, que podem ser muito ricas e interessantes. Prestar atenção em nossos sentimentos e emoções é o começo de um processo de autoconhecimento.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O que nos (co)move

Algumas coisas nos comovem, sem que para isso tenhamos uma justificativa especial. O olhar da irmã Sara ao ver seu animalzinho de estimação dilacerado pelas mordidas de dois cães pit bull, a imagem do menino de quatro anos salvo pela irmãzinha do incêndio que consumiu sua humilde casa, em Novo Hamburgo e algumas cenas do filme Nosso Lar foram acontecimentos que chamaram a atenção nas últimas semanas. O que tem em comum essas situações? Estive me interrogando sobre isso e a conclusão a que cheguei foi que essas três coisas de alguma maneira fizeram pensar na vida. Vida no sentido de nosso tempo aqui na Terra, aquele tempo que nos foi confiado para que realizemos alguma coisa. À irmã Sara, em toda sua tristeza por ter perdido sua cachorrinha atacada pelos cães ferozes, irresponsavelmente soltos nas ruas da cidade, restou o consolo de que a Fofinha salvou uma vida, ao desviar a atenção dos cães ferozes de uma criança que estava por perto. Mas seu olhar era de tristeza, desolação, sentimento pelo que não foi uma simples perda, mas algo violento e ameaçador que vitimou sua pequena companheira com quem passou por tantos bons momentos. As pessoas que estavam junto dela auxiliaram como puderam, em solidariedade com sua dor, e isso foi algo comovente.
A quase tragédia daquele incêndio em Novo Hamburgo, além de apontar para a transitoriedade das coisas mostra o heroísmo de uma menina de 12 anos que corajosamente enfrentou as chamas, sem preocupar-se consigo mesma tendo em mente apenas a necessidade de salvar o irmão, um menino de 4 anos: “eu tinha que salvar ele”. Não houve vacilo nem dúvida sobre o que era mais importante nesse momento. Após o alivio, outra vez a solidariedade demonstrada tornará possível a reconstrução da moradia e a recomposição da família. Contudo, o principal disso é que, em meio ao infortúnio, todos estavam felizes por ninguém ter morrido ou se machucado mais gravemente. A experiência da garota lutando pela vida do irmãozinho, arriscando a sua própria, nos dá a dimensão do desapego e da coragem para resgatar alguém querido. Mesmo sem bens materiais, estar junto dos seres amados significa uma vitória e torna menos difícil o recomeço. Pessoas simples, para quem a vida representa o bem mais precioso, sentiram o calor humano de outras pessoas, desconhecidas até, trazendo-lhes uma nova perspectiva, com doações de roupas, alimentos e materiais de construção.
Então, podemos perceber que aquilo que nos comove é também o que nos move a fazer alguma coisa. A simples comoção por si só não traz beneficio. É necessário agir, seja diminuindo a dor dos que estão sofrendo, seja promovendo o bem em qualquer de suas formas, buscando a verdade, interagindo dentro da atividade de cada um de forma a proporcionar uma melhora na vida das pessoas, enfim, há inúmeras possibilidades.
Ou alguém duvida que a bondade e a justiça fazem bem ao ser humano? Pode ser que não haja recompensas palpáveis, materiais ou imediatas, mas uma consciência leve e um coração feliz não tem preço.
E não sobrou espaço para falar do "Nosso Lar". Fica para a próxima. Uma boa semana a todos!

Homens... na cozinha???

Sim, lá estavam eles. De toquinha e avental, sisudos ou brincalhões, atrapalhados, concentrados e comportados, todos metendo a mão na massa. Literalmente. Médicos, advogados, empresários, dentistas, profissionais de diversas áreas, alguns mais jovens, outros mais experientes. O entrevero era grande. Entre panelas, frigideiras, fornos, fogões, bacias e panos de prato os próprios cozinheiros de vez em quando se esbarravam entre si. Preocupavam-se: “será que não vai faltar? Será que vão gostar?” Fui até a cozinha do restaurante do Clube 19 de Julho e fotografei todos eles, como forma de um registro, uma lembrança para a Liga, mas também para servir de prova se alguém duvidar da competência desses cavalheiros, que gentilmente se colocaram a serviço de uma causa nobre. Pela 15ª vez realizou-se na semana passada, dia 28, o jantar anual “Homens na Cozinha”, em benefício da Liga Feminina de Combate ao Câncer de Sapiranga. O evento é sensacional. Quem já conhece, não perde um. Quem foi pela primeira vez surpreendeu-se com a variedade e qualidade dos pratos. Qualidade esta que tem muito a ver com a energia empregada na sua preparação. Energia da doação, do esmero, do cuidado e do carinho de quem faz algo, alegremente, a favor de quem mais precisa. Porque são cerca de 740 pacientes atendidos pela Liga, em Sapiranga. Como já escrevi em outra oportunidade, todos dependem da atuação da Liga, e esta muitas vezes da boa vontade da comunidade. As voluntárias da Liga, lideradas pela presidente Suzana Margareth Koetz, estão de parabéns pela organização da promoção. Mas dessa vez a responsabilidade maior era deles: Alfredo Reich, Fábio Ely, Jair Mariante, Milton Martins, Antonio Vanderlei Correa, Carlos Volnei Ebling Correa, Marcos Dutra, Cirano D’Carli, José Pinto Rodrigues, Leonardo Mylius, Jacson Gottert, Fábio Haubrich, Saulo Augusto Ludwig, Lucas Gomes, Paulo Alberto Haag, Cristian Moisés Haag, Carlos Eduardo Bobsin, Domingos Pinheiro, Valdecir Mendonça Eloi e Adão Martins. Vinte homens que arregaçaram as mangas e além de doar os ingredientes dos pratos que prepararam e serviram, doaram a si mesmos, submetendo-se sem medo às críticas e aos elogios dos frequentadores do jantar. Gesto bonito, digno de reconhecimento e agradecimento. Parabéns!

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Desta água não beberei...

Tudo aquilo que existe e se faz na face da Terra é passível de mudança. O eterno, o imutável, o insubstituível, sinto muito informar, não existe. Só se for a eternidade da morte, essa não muda. Enquanto houver vida, haverá movimento, haverá transformações. Por isso, aquele velho ditado: “nunca digas desta água não beberei...” Porque se a sede apertar até água suja pode salvar uma vida, como a dos trabalhadores chilenos presos numa mina a 700 metros de profundidade, que sobrevivem há cerca de 20 dias só bebendo água dos motores. Mas enfim, nada há de perpétuo nesta vida. Nem a mais nefasta injustiça, nem o bem supremo. O que hoje é, amanhã poderá não ser mais. Isso para falar mais uma vez da relatividade das coisas. Não sou ninguém para querer ensinar alguém. Aliás, sou aprendiz nesta vida. Mas o pouco (ou muito) que vivi até agora me mostrou que aquilo a que nos apegamos com unhas e dentes num determinado momento pode não ter toda essa importância num futuro próximo. E mais: podemos nos questionar porque em determinada ocasião aquilo foi tão importante que justificou um rompimento, uma reação ou um comportamento. O ser humano vive de expectativas, de incertezas e dúvidas. Mas traz consigo a esperança e isso é que o faz seguir em frente. O duro é quando não nos permitimos uma mudança, por mínima que seja, em nome de um absolutismo ou de um apego que assusta. Olhar uma questão ou situação por mais de um ângulo, ver a outra face, pode revelar surpresas, soluções ou um outro caminho. Abrir-se para o desconhecido, o novo, o diferente também é um modo de desenvolver uma nova perspectiva, dar-se oportunidade. É um direito que a própria vida nos dá.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O que há por trás da alienação parental?

O assunto é delicado e preocupante. A síndrome de alienação parental é uma situação em que os laços afetivos entre pais e filhos são prejudicados pela influência de um ou de ambos os genitores. Não deixa de ser uma violência. É o caso de pais que não conseguem superar suas dificuldades sem envolver os filhos. No caso de uma separação, por exemplo, quando o pai ou a mãe incentivam ou até treinam a criança a romper laços com o outro genitor. Até parece mentira, mas por um sentimento de vingança, devido a não superação da ruptura da vida conjugal, a criança acaba sendo usada como instrumento de agressividade contra o ex parceiro. E isso se dá de diversas maneiras: excluindo o outro genitor da vida dos filhos, interferindo nas visitas, atacando a relação entre o filho e o outro genitor e denegrindo a imagem deste. Às vezes decisões importantes são tomadas sem a participação do outro genitor. Se a criança se mostra contente por ter estado com o outro genitor, é alvo de desagrado por parte daquele a quem demonstrou seu contentamento. Na questão da visitação, há um controle exagerado de horários previamente estabelecidos, sem a menor chance de flexibilizá-los. Sem falar na repetição de motivos ou fatos ocorridos entre o casal, críticas à competência profissional e situação financeira do ex-cônjuge, na tentativa de que a criança tome o partido de um deles. Há casos em que a criança é induzida a ser uma espiã da vida do ex-cônjuge. Tudo isto é muito triste e não se restringe à problemática jurídica, indo alcançar a esfera da psicologia e da psiquiatria. A criança alienada guarda sentimentos e crenças negativas sobre o outro genitor, muitas vezes exageradas, inconsequentes e irreais, além de apresentar um sentimento constante de ódio e raiva. Pode ocorrer de a criança se recusar a visitar ou se comunicar com o outro genitor. Com o decurso do tempo tais circunstâncias tendem a se agravar, fazendo com que as crianças vítimas da síndrome de alienação parental fiquem mais propensas a utilizar drogas, apresentar distúrbios psicológicos como depressão, pânico e ansiedade, baixa auto estima e problemas de relacionamento, quando adultas. Especialistas apontam como caminho para solucionar o problema que os pais busquem, sinceramente, compreender o filho, protegendo-o de discussões ou situações tensas com o outro genitor. Também o auxílio psicológico e jurídico deve ser procurado, pois o problema de alienação parental não desaparece sozinho. Lembrando que os filhos precisam de pai e mãe. Podem não ser mais um casal, mas continuarão sendo para sempre pai, para sempre mãe. Disso não há dúvidas.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Pedagogia futebolística

O futebol tem regras que são respeitadas; a política também tem regras, mas quem as respeita? A própria torcida cobra a obediência à ética no jogo. E como isso tem importância! Imagine um juiz que favoreça um dos times, que deixe de apitar uma falta, que não se importe com as agressões em campo... Não digo que seja morte certa na saída, mas que será vaiado e xingado não tenham dúvidas. Para não falar de sua pobre mãe, o que terá de suportar... O torcedor exige observância das regras, durante a partida. No futebol burlar regras significa ser punido. Na política, nem sempre. Cadê a torcida fiscalizando? Cadê o povo cobrando e exigindo comportamento ético dos candidatos e dos eleitos? Quase não se vê. Preferível deixar prá lá... E assim se perpetua uma postura, um posicionamento perante uma realidade criticada por todos, mas que está pedindo uma ação, uma tomada de posição há muito tempo.
A ideia de que o futebol é um ótimo parâmetro para se analisar a política está exposta num artigo escrito pela filósofa Márcia Tiburi, na Revista Cult do mês de julho, sob o título “A ação e sua prostituição – a atualidade da Lei de Gerson e o futebol como pedagogia política”. Nele, a escritora discorre sobre a famosa Lei de Gerson, onde “o importante é levar vantagem em tudo”, que na verdade nada tem a ver com futebol, mas com uma campanha publicitária de uma marca de cigarros. Ela traça um paralelo entre futebol e política e também menciona o fato de que o jogador de futebol sempre terá de mostrar o que promete diante de sua torcida, que é bem mais complexa que a mera massa manipulada pela publicidade, no caso da política. É bem verdade que se ouve falar em corrupção entre patrocinadores dos times e no próprio primeiro escalão desse esporte. Mas fiquemos apenas com a imagem do campo de futebol, “único cenário da exposição da verdade de que ainda somos capazes”, segundo Marcia Tiburi, onde a torcida comparece para prestigiar e incentivar o seu time, e, em última análise, fiscalizar o que acontece.
Que tal se a política fosse uma arena, como um campo de futebol, e nós, o povo, fôssemos a torcida, atenta a cada lance, com a mesma atenção dedicada às jogadas dos craques, pronta para botar a boca no trombone? Aposto que as jogadas políticas seriam mais honestas e bem mais transparentes. E o medo da torcida?!

sábado, 7 de agosto de 2010

Pai! Simplesmente Pai!

Pode parecer estranho, mas para nós, mulheres, não é muito fácil falar sobre os pais. Não me refiro às homenagens pelo Dia dos Pais, elogios, críticas, comparações e tudo mais. Isso tudo é “café pequeno”, tiramos de letra. Falar da “instituição” pai é que nos põe a pensar um pouco. Talvez, a lembrança de nosso próprio pai interfira, reavivando sentimentos e nos deixando meio parciais em nossas reflexões. É bem provável que esta seja apenas a minha opinião sobre o assunto, com a qual ninguém é obrigado a concordar. Mas, a sociedade eleva quase sempre a mãe à condição de heroína do lar (o que não deixa de ser real, às vezes). Aos pais é destinado um papel coadjuvante, participativo sim, mas com funções ditas diferentes da feminina. Mesmo os mais modernos que assumiram sozinhos as tarefas domésticas, a criação e a educação dos filhos, ainda estes padecem do estigma de estarem exercendo o papel da mãe e não desempenhando o seu próprio papel. Ser pai nos dias de hoje, virou uma tarefa mais humana do que era há anos atrás. Até a legislação modificou-se para dizer “poder familiar” onde antes se falava em “pátrio poder”, retirando a exclusividade do pai como chefe da família e promovendo a igualdade de responsabilidades entre pai e mãe, com relação aos filhos. Isto, entre muitas outras coisas, fez com que a figura do pai se tornasse mais próxima dos filhos. E levou os filhos, por sua vez, a se sentirem mais amigos do pai e menos como entes subalternos. Porém, existem mágoas, relações mal resolvidas e sentimentos que não se conseguiram expressar por toda uma vida, que vem confundir os relacionamentos entre pais e filhos. A vida moderna trouxe consigo outros questionamentos, outras necessidades. Não se vislumbra mais na pessoa do pai apenas a figura do provedor do sustento, já que a mãe também foi à luta em igualdade de condições. O pai pode assumir com certa tranquilidade o seu lugar como aquele que conta histórias e ouve segredos; aquele que se importa com o bem estar físico e psicológico do filho; aquele que sugere, aponta caminhos, mas deixa o filho livre para escolher; aquele que, acima de tudo, dá o que de mais precioso um filho pode querer: o seu próprio exemplo de vida. Aquele que ensina a dignidade acima de tudo, o amor ao próximo; que faz ver que o mundo vai além da própria família, esta como fundamento, mas que não se esgota em si mesma. Assim, são mais presentes. E mais felizes os pais e os filhos. Parabéns a todos os pais!!!

domingo, 1 de agosto de 2010

Novo Blog: iaramagajewski.blogspot.com (Genuíno Amigos)

Crônica de um amor genuíno

O ano era 1973. Os tempos eram difíceis e meio sombrios. Mas não para nós, alunos da 6ª série “A” da Escola Normal Coronel Genuíno Sampaio. O soar da campainha e a sineta da dona Leda colocavam fim ao primeiro ato – o encontro antes da aula, no pátio da escola. Filas formadas, devidamente fiscalizadas pela dona Leda e pelo Dotta, o temido diretor do colégio, na época, dirigíamo-nos para a sala de aula, palco dos demais atos do espetáculo.
A sala de aula de nossas 6ª, 7ª e 8ª séries, foi o palco do início de nossas vidas. Ali aprendemos como ninguém a arte da amizade, descobrimos os primeiros segredos do amor, sofremos muito com o que achávamos serem as dificuldades e desilusões da vida, mas na verdade eram apenas as primeiras experiências da juventude.
Na adolescência vestida de US Top, a calça azul e desbotada que você podia usar do jeito que quisesse, tivemos todos os sonhos possíveis, muitas vezes interrompidos, é claro, pelos sermões inesquecíveis dos professores nos chamando de volta à realidade.
Passaram-se três anos de nossas vidas, com pressa de que chegasse logo o fim. Todos os dias, ao final das aulas, víamos desfilar diante de nós todos os acontecimentos da tarde e do dia. As lições, as conversas, as coisas que não davam certo, as conquistas. E ficávamos pensando: como seria o futuro? Mal sabíamos que esse tal de “futuro” chegaria mais depressa do que poderíamos imaginar.
Hoje somos muito mais do que adultos. Temos nossas profissões e nossas famílias, trabalhamos e vivemos a vida que escolhemos prá nós. Mas ainda somos alunos. A vida agora é nossa professora. Podemos dizer, sem medo de errar, que tudo o que aprendemos depois do Genuíno foram acréscimos. Sim, porque o fundamento de tudo, o princípio do conhecimento, a base da convivência, foi ali que aconteceu, naquelas tardes onde ficávamos loucos para ver o tempo passar mais depressa. Ah! Se soubéssemos, o que hoje sabemos... Que o futuro chegaria tão rápido assim, e que agora já é passado...
Um por um dos professores nos deixaram um pouco do significado do saber e do aprender. Um por um dos colegas, agora já amigos, ensinaram alguma coisa sobre as relações humanas.
O Genuíno esteve de aniversário: completou 75 anos. Então, o que são e o que foram três anos? Para nós foi muito. Realizamos um encontro, no dia 30 de julho de 2010, para relembrar os velhos tempos e conversar sobre os rumos que a vida nos fez tomar. Nem todos puderam comparecer, mas haverão outras oportunidades e fizemos um pacto para trazer os faltosos e convidar a participar também os colegas de outras turmas.
Foi emocionante. Não há outra palavra para definir. Ver todas aquelas pessoas conversando, como se tivessem se despedido há uma semana e não há mais de trinta anos, foi algo inesquecível. As memórias de todos, muito boas, pois muitas histórias foram tiradas do fundo do baú. A dona Leda tocando a sineta e fazenda a chamada, antes do jantar; os pequenos depoimentos de cada um, segurando as lágrimas, como o Jaison; todos cantando a música "Amigos para sempre" acompanhando a Nana Bernardes, que gentilmente aceitou nosso convite para colocar música em nossas recordações... Ah! e os cadernos de "recordações" que apareceram... Tudo foi motivo para o clima alegre e a boa energia que se sentiu durante o encontro.
É feliz aquele que tem boas histórias para contar e, com certeza, nós as temos. É feliz aquele que, olhando para trás pode se sentir agradecido a Deus por ter amigos e tantas lembranças a compartilhar. Coelho Neto diz, com inspiração:
“A casa da saudade chama-se memória: é uma cabana pequenina a um canto do coração.”

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Quem tem razão?

Já se sabe que advogado não é Deus... (bom começo) e, portanto, não faz milagres. Mesmo assim, sempre é bom lembrar a quem ainda acredita na infalibilidade humana que uma coisa é você se julgar no direito de, e outra coisa é você ter realmente o direito a. Às vezes, não sei o que é pior, um amigo ou conhecido do cliente dando palpite jurídico ou as coisas inverossímeis que aparecem no cinema e na televisão, dando a ilusão de que tudo se resolve num passe de mágica. Assim como sempre tem um vizinho de plantão com uma receitinha nova para curar esta ou aquela doença, sempre tem alguém que conhece alguém que já teve um problema assim e resolveu assado, e esta seria a fórmula certa para tudo. Ora, assim como na Medicina é importante a participação do paciente na própria cura, no Direito também, o advogado para obter sucesso numa causa precisa da colaboração do cliente. Aquilo que inicialmente se deseja num processo judicial pode ser modificado por um conjunto de fatores, fatos novos e argumentos da parte contrária. Sim, ela existe, a parte contrária. E também quer ter direitos. Quer ter razão. E aí? Como fica? Dois advogados, duas posições, duas teses contraditórias entre si. Quem tem razão? Não se pode fechar os olhos e ignorar fatos relevantes. Na vida real não é como em filmes e novelas, em que de repente surge do nada uma testemunha salvadora, e adentra triunfal na sala de audiências, esclarecendo tudo. Nas ações nossas de cada dia, quando se alega alguma coisa há que se ter um mínimo de provas, isso é o básico. Uma bela e triste história sem comprovação não é nada no Direito, apenas mera alegação, por mais comovente que seja. É preciso que se busque sempre o equilíbrio das relações, a coerência, a verdade real dos fatos. Dizer o que o cliente quer ouvir, nem sempre resolve as coisas. Às vezes, o remédio é amargo, mas necessário. Existem regras que devem ser respeitadas, etapas a serem cumpridas, detalhes que precisam de atenção. É imprescindível a confiança, clareza e transparência pautando a relação entre cliente e advogado. Sem isso é difícil realizar um bom trabalho.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Poetizando com a lógica do existir

A amizade é um mistério. Não tem uma explicação lógica duas pessoas de repente, ou de longa data, terem tanto em comum, que se entendam mesmo sem palavras. Ou apesar das palavras... Gostos iguais, interesses comuns, empatia, o que será? Teorias e retóricas, canções e poemas pretendem elucidar e traduzir a amizade. Talvez não consigam mais do que um tênue retrato do sentimento entre amigos. Ficar à vontade na presença de alguém, poder rir ou chorar, falar qualquer coisa séria ou banal, conversar amenidades ou tentar salvar o mundo, tudo isso cabe na amizade. Tem existências que nos fazem mais felizes, nos fazem querer ser pessoa melhor. Fazem soar dentro de nós alegrias, despertam a coragem esquecida e as claridades internas, pela simples necessidade de viver. Há existências que nos fazem sonhar... E sonhando com o impossível, partimos mundo afora, procurando longe de nós a vida que sonhamos possível. Mas ela está aí, bem ao nosso lado, ao nosso alcance. É só abrir os olhos do coração...

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Eternamente em cima do muro

Tem gente que não se posiciona nunca. Não se compromete, não escolhe, não se expõe e nada faz que possa lhe ser perguntado por quê. Talvez “por que” seja difícil explicar. Às vezes penso que as pessoas tem medo da transparência. Preferem ser enganadas, induzidas, ludibriadas. Senão, por que o espanto quando alguém anuncia com clareza seus propósitos políticos? Causa surpresa e outras reações, digamos assim, desfavoráveis... Será preferível que o “simpático” candidato seja “apenas” uma pessoa desinteressada, cordial e atuante, sem que sequer faça menção à palavra “política”? As pessoas não estão acostumadas à transparência de intenções e isso é preocupante. Preferem ver segundas intenções em tudo.
Se alguém fizer algo em caráter puramente social e voluntário, ainda assim é interpretado como gesto político. Como no caso de uma amiga que resolveu promover uma tarde de entretenimento para crianças de uma vila da periferia, com direito a distribuição de lanches e brinquedos. Não tinha nada a ver com política, era apenas algo voluntário, pelo simples fato de querer ajudar crianças necessitadas. Mesmo assim, ao final do evento vieram lhe perguntar: afinal de que partido político ela era? Minha amiga disse que perdeu o chão. Não era nada disso e ninguém entendeu. Logo quiseram ligá-la a uma sigla partidária. Mas, tivesse ela anunciado que era, sim, de algum partido político, certamente também não lhe faltariam críticas, pois iriam dizer que se tratava de promoção pessoal.
É algo para se pensar. Talvez as raízes disso estejam na forma como é vista a política no Brasil. Os políticos representam a classe profissional menos confiável, relatou uma recente pesquisa publicada em jornais de grande circulação no estado. Mas e não dá para mudar isso? Não é impossível, mas que é difícil, isso é. Imagino que as pessoas pensem: se já está anunciando agora que é político, o que fará depois? E eu repito a pergunta: sim, o que fará? A resposta que se espera é uma só: que faça política, política séria para a qual realmente tenha sido eleito. Enquanto persistirem estes pensamentos de que política e políticos não prestam (e, infelizmente, há razões de sobra para se pensar assim), não se estará dando chance a mudanças. Já houve muitas oportunidades, outros dirão, e grande parte delas frustradas. Pois é, e então? Vamos abandonar a democracia? Ou seria a hora de todos iniciarmos um processo de verdadeira politização? Aliás, a quem mesmo interessa a desilusão com a política? Não seria por acaso àqueles que querem se perpetuar no poder, ou àqueles a quem não interessa mudar o sistema? Não estou defendendo alguém específico. Embora seja minha profissão como advogada, defender alguém, estou no momento, defendendo uma ideia. Nunca fui muito ligada em política, não da maneira como se vê atualmente. Mas, desde sempre, me tenho por um ser político. Como todos nós.
Você aguenta uma opinião diferente da sua? Começa por aí...

sábado, 10 de julho de 2010

Os rótulos que usamos

Bonito ou feio. Caro ou barato. Novo ou velho. Será que não podemos viver sem rótulos? Será que valemos só pelo que aparentamos? Não pode ser. Seria muito “pequeno”. O que dizer sobre como me sinto, além de “bem” ou “mal”? Talvez os adjetivos estejam ocupando o lugar dos sentimentos. Porque estar bem ou estar mal, ser feio ou bonito esgota o assunto por um momento. Quando se trata de relações humanas, a riqueza interior da pessoa desaparece diante dos rótulos. Resumiu-se tudo. Pronto. Ele está bem. Isto é muito ruim. Aquilo é errado. E daí? Onde vamos chegar, se a conversa acaba no adjetivo? Não vamos desenvolver qualquer linha de pensamento, não vamos debater nada, porque “é” assim? Não se questiona, sequer, porque “é assim”? A vida fica muito simplificada. Mesmo nas ciências exatas o questionamento é necessário. A dúvida, a reflexão, a comparação, a troca e a discussão de idéias são fundamentais. Ver mais além do feio ou bonito, ou de qualquer atributo com que se possa qualificar alguém, é tão essencial como poder expressar um sentimento sem enquadrá-lo numa fórmula preestabelecida e esperada. É deixar fluir, saber compreender e se expressar para que o outro se sinta valorizado, humano, alguém com alguma importância além do imediatismo.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O segredo é entregar-se

Num dia de inspiração inventei a seguinte frase: se você não se entrega ao que faz, não conseguirá entregar aquilo a que se propôs. Coloquei a dita frase na minha página do “twitter” e um belo dia vi que minha sobrinha, que está para se formar, a copiou para a sua página, não sem colocar a observação “frase roubada da tia Iara”. Fiquei orgulhosa pelo “roubo”: alguém leu e gostou. E, melhor, acho que entendeu. Então percebi que às vezes temos coisas a dizer e não as dizemos por medo de não sermos entendidos, ou até mal interpretados. Mas são essas percepções, vindas do nada, que às vezes nos acordam para certas coisas...
De fato, há que se entregar inteiramente àquilo que se faz e que se elegeu como meta, para que o resultado apareça. E se entregar significa colocar todo o seu esforço, sua alma e sua intenção nas ações necessárias a concretizar o objetivo. Nem preconceitos, nem mau humor ou má vontade podem desviar do caminho. Aliás, quando temos um objetivo já temos 50% do que precisamos. O resto é empenho, força de vontade e convicção de que vai dar certo. Também nem sempre aquilo que achamos ser o correto ou o ideal vai bater com o que os outros pensam ou esperam de nós. Aí é o caso de fazer como a água do rio faz quando encontra pedras ou obstáculos: contorna-os, mas segue o seu curso.
A entrega pressupõe também que não se fique esperando as coisas caírem do céu, que alguém entregue o “produto” pronto. Isto já é outro tipo de entrega... O que dizer do cientista que passa meses ou anos pesquisando a fórmula para a cura de uma doença? Ou do médico, cuja missão incansável de salvar vidas lhe ocupe todas as horas do dia? Do maestro à procura da nota perfeita, para concluir uma sinfonia? O estudante empenhado em realizar um trabalho de conclusão de gabarito? Entrega.
Tem pessoas que acham que o mundo lhes deve algo. Assim se conduzem e se portam, na certeza de que são merecedoras, por excelência, de toda obra e graça que lhes é destinada, sem que precisem se dispor a qualquer movimento. Difícil que tal posicionamento diante da vida seja vitorioso. Nenhuma conquista é fácil durante o percurso. Implica, muitas vezes, renúncias, esperas, frustrações até.
O mundo não é feito só de corretos, sábios, ou aqueles que nunca erram. É feito também por aqueles que num ato de coragem se dispõe a empreender novas jornadas, mesmo com o risco de não chegar ao fim. São aqueles que se perguntam, diariamente, a cada minuto: estou contribuindo para um mundo melhor? São os que tem dúvidas, medos, mas tem também suas convicções e buscam um sentido para a vida. São pessoas comuns, que vivem suas vidas, mas sabem que o universo é maior e espera pela sua participação. Com entrega.

sábado, 12 de junho de 2010

"A única coisa que nos imortaliza - mesmo - é a memória de quem amou a gente." (Martha Medeiros)

Trabalho Infantil

Trabalho infantil é proibido. Está no art. 7º, XXXIII da Constituição Federal e no art. 60 do Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA. Criança tem que estudar e brincar e ponto final. Também realizar atividades que se compatibilizem com seu estado de formação. É lei, é direito: até os 12 anos de idade, a pessoa é considerada criança. De 12 a 16 é adolescente. Portanto, protegida pela legislação que define a idade mínima para o trabalho em 16 anos. Antes disso, e só a partir dos 14 anos, apenas na condição de aprendiz devendo ser respeitada uma série de requisitos. Mas o que dizer daquelas que trabalham num ato de desespero para que a família, os irmãos menores não morram de fome? No Brasil e aqui mesmo, perto de nós, isto é uma realidade. Preferível estar trabalhando do que roubando dirá uma grande parte das pessoas. Mas não é. Qualquer trabalho de menores é exploração. É aproveitar-se da condição da criança, tanto os pais como o eventual empregador. “Isto porque tanto a criança como o adolescente são seres ainda em formação, tanto física, quanto psicológica, intelectual e moral. Logo, as suas atividades prioritárias são aquelas que estão relacionadas diretamente com esse desenvolvimento, como a freqüência a uma instituição de ensino, que propicia capacitação intelectual, e o exercício de atividades esportivas e recreativas, que desenvolvem o raciocínio e podem também propiciar a interação em grupo. Estas atividades devem ser a regra na rotina da criança; o trabalho, exceção.” Palavras do Procurador do Trabalho e Vice-coordenador da Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho de Crianças e Adolescentes, do Ministério Público do Trabalho e ex-juiz do Trabalho, Rafael Dias.
Há poucos dias recebi um e-mail de um amigo leitor questionando sobre um interessante assunto: e as crianças que fazem novela na televisão? Às vezes bebês de colo, crianças com cinco, seis anos “trabalhando” em gravações de comerciais ou novelas. Tem até uma menina que anima programa de auditório, trabalhando sextas feiras, sábados e, algumas vezes, aos domingos. E aí? Não é exploração? É bem remunerado, mas será que a exploração tem a ver apenas com o dinheiro recebido ou não? Este assunto dá pano prá muita manga... Ainda mais se levarmos em conta que muitas atuações de crianças em espetáculos televisivos tem mais a ver com a vaidade dos pais, do que com qualquer outra coisa. Aliás, no Brasil, os pais são oficialmente os responsáveis pelos filhos. Ainda assim, dificilmente são punidos em caso de permissão do trabalho infantil, recaindo a mesma sobre quem contrata os menores, na maior parte das vezes.
No tema em questão (menores trabalhando artisticamente), há previsão de que o mesmo possa ser feito, desde que com autorização judicial. A autorização não pode ser geral, mas para cada trabalho específico. Não pode haver prejuízo da freqüência e bom aproveitamento da criança na escola, devendo ser resguardados os direitos de repouso, lazer e alimentação, dentre outros. Tudo bem. Mas e aí, a dúvida persiste. Porque este tipo de trabalho pode, então, ser autorizado e outros não?
Encontramos alguma explicação na literatura jurídica, dizendo que é admitida a possibilidade de exercício de trabalho artístico, desde que presentes alguns requisitos: excepcionalidade; situações individuais e específicas; ato de autoridade competente (autoridade judiciária do trabalho), além da prévia e expressa autorização dos pais ou representantes legais; existência de uma licença ou alvará individual; o labor deve envolver manifestação artística; a licença ou alvará deverá definir em que atividades poderá haver labor, e quais as condições especiais de trabalho. A criança deverá, ainda, estar sempre acompanhada de responsável legal, durante a prestação do serviço e uma parte da remuneração devida deverá ser depositada em caderneta de poupança.
Mesmo com todas estas justificativas, é de se entender a dúvida do leitor. São situações como estas que fazem do nosso Brasil, um país de contradições. Uns podem e outros não. A lei é rígida para alguns e para outros nem tanto. Por outro lado, é de se louvar que a legislação pátria tenha se preocupado em proteger a criança e dar prioridade a questões dessa importância. É conveniente lembrar que crianças e adolescentes, embora com talento e aptidão para as artes, não devem ser transformados em fonte de renda da família. Se a lei é cumprida ou não, isso já é outra história.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A ARTE DE FAZER UM JORNAL

No dia 01 de junho é comemorado o Dia da Imprensa. A data é sugestiva para se fazer uma reflexão sobre o tema “jornalismo” e também uma pequena homenagem pelo aniversário de quatro anos do jornal A Opinião.
Os fatos da vida são imprevisíveis. Para acompanhá-los o profissional do jornalismo precisa duvidar, circular por entre as fontes sem maiores comprometimentos ou envolvimentos, e, acima de tudo, preservar valores como a ética e a verdade. Isto é o que faz, em parte, o sucesso de um jornal. O veículo impresso de comunicação deve transmitir muito mais do que informações e conhecimentos, deve transmitir o entendimento de tudo isso.
Um jornal depende da confiança pública, já que numa democracia o poder é dos cidadãos. Neste universo diferencia-se o que é notícia de verdade do que só serve para preencher espaço. A realidade é desigual, possui os lados positivo e negativo. A notícia está no curioso, no estimulante, no drama e na tragédia, no que é capaz de abalar estruturas e pessoas e não só no comum, na normalidade, na comédia, no divertimento e no que conforma.
São quatro os deveres básicos do jornalista: a busca da verdade, o jornalismo independente, o dever do jornalista com os cidadãos (não ter vergonha de tomar o partido deles) e, por último, mas não menos importante, o dever com sua própria consciência. Fazer um bom jornal exige tudo isso. Esses ensinamentos são do jornalista Ricardo Noblat, em seu livro “A arte de fazer um jornal diário”, no qual se baseiam também algumas das considerações feitas neste comentário.
A relação de proximidade que se estabelece entre o jornal e o leitor é uma conseqüência de sua credibilidade. Um jornal não pode abdicar de valores que orientam o aperfeiçoamento da sociedade, tais como liberdade, igualdade social e respeito aos direitos fundamentais do ser humano.
Uma presença constante e ativa na comunidade como é a presença do jornal A Opinião é algo que foge à simples publicação de notícias e fatos. O jornal A Opinião é feito com alma e com arte. Feito com a emoção que permeia os acontecimentos da vida. Não se furta a denunciar o que entende necessário,
porém não deixa de se fazer presente nas ações de cidadania, engajando-se nas questões que envolvem a comunidade, priorizando valores como a ética e a democracia. Sempre em busca da verdade, com a liberdade que poucos ousaram conquistar.
Só o decurso do tempo não faz um jornal ficar bom, mas um jornal que é bom inscreve a sua história no tempo, fazendo da informação responsável uma missão.
A comunidade sapiranguense sabe, conhece e leva “A Opinião” no coração! Parabéns!

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Ficha Limpa

Com o slogan “Voto não tem preço, tem consequencias”, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral iniciou em 2008 uma campanha visando aumentar o rigor da lei em favor de eleições mais limpas. A campanha consistiu, num primeiro momento, na coleta de assinaturas em número necessário para um projeto de lei de iniciativa popular. Este projeto de lei previa que aquelas pessoas que foram condenadas ou tiveram denúncia recebida por um tribunal devido a fatos graves, como racismo, homicídio, estupro, tráfico de drogas e desvio de verbas públicas não poderiam se candidatar às eleições. Integrariam o rol dos inelegíveis também aqueles que renunciaram ao cargo para evitar processo por quebra de decoro parlamentar ou desrespeito à Constituição, bem como os que foram condenados em representações por compra de votos ou uso eleitoral da máquina administrativa.
Pois bem, a Câmara dos Deputados já havia aprovado e o Senado aprovou, no último dia 19, o projeto de lei que estabelece casos de inelegibilidade. Falta agora o Presidente da República sancionar a lei, para que ela possa valer já nas eleições deste ano. Outra questão abordada são os prazos para a inelegibilidade após as infrações. Pela lei atual varia de acordo com o tipo de infração e quem cometeu. Por exemplo, para deputados e senadores era de oito anos, para governadores e prefeitos, três anos. Pela nova lei passa a ser oito anos, após o mandato, independente do crime e de quem cometeu. Também com a nova lei, não é mais necessário o trânsito em julgado (quando não há mais chances de recurso), basta a decisão de um colegiado (grupo de juízes), em segunda instância, para o político ficar inelegível.
Dito isso, penso que todos os cidadãos brasileiros devam estar, no mínimo, satisfeitos com o resultado da votação. Trata-se de uma questão de princípios. É importante considerar o histórico do candidato, afinal ele fará parte e poderá influenciar, num futuro próximo, a vida de todos nós. Se a lei entrar em vigor e for cumprida à risca poderá mudar, aos poucos, o cenário político brasileiro. Enquanto isso, o eleitor que se sentia desmotivado ou decepcionado vislumbra uma luz no fim do túnel, pois poderá optar entre candidatos realmente comprometidos com a cidadania.

sábado, 22 de maio de 2010

Certidões de vida

Trabalhei durante muitos anos num Cartório. Para ser mais precisa, por catorze anos no Tabelionato de Sapiranga. Foi onde peguei gosto pelo Direito. Foi também onde aprendi muitas coisas e dentre elas a analisar e observar documentos que, diariamente, passavam por minhas mãos. Documentos de todos os tipos, como certidões, carteiras de identidade, passaportes, títulos de eleitores, enfim, de tudo um pouco.
Desde aquela época, quando pego algum desses “papéis”, costumo examiná-lo detidamente, verificando datas, nomes, lugares, profissão, endereços. Ficava imaginando de que maneira o papel refletia a vida da pessoa que era sua dona. Hoje, não posso negar, ainda tenho esse hábito. Então, me coloco como uma espécie de espectadora à distância do evento documentado, imaginando os detalhes e pormenores e montando uma espécie de quebra cabeças mental.
Uma certidão de casamento, por exemplo, pode levantar indagações assim: como teria sido o dia do casamento? Estava frio, quente, ensolarado ou chovia? Talvez fosse primavera... E como era o vestido da noiva? O local tinha flores? Música? Imagino o nível de felicidade dos noivos. Trocaram olhares? O que sentiram, o que estariam esperando da vida, depois daquele momento? Seus sonhos se concretizaram? Continuaram exercendo a profissão que consta na certidão? Será que ainda compartilham o mesmo ideal? Para onde a vida os conduziu? Tiveram filhos, será? Se a certidão é de nascimento, bom começar pela hora do parto. Depois ver o dia, mês e ano do nascimento, o nome e profissão dos pais, quem são os avós. E aí, em que momento da vida dessas pessoas esta criança chegou? Foi desejada, esperada e amada? Teve boa saúde? Quem é hoje e como será amanhã? O que acontecia no mundo, naquele exato dia? De uma certidão de óbito surgem questões peculiares. Verificando a hora em que ocorreu o falecimento, é de se perguntar se alguém esteve junto com a pessoa nesse momento? Qual teria sido seu último pensamento? Faltou algo a ser feito? Algum desejo ou sonho não realizado? Sofreu ou despediu-se da vida serenamente? O que significou a perda desta pessoa para os que ficaram?
Quantas histórias podem estar contidas num simples pedaço de papel, cheio de dados informativos... Claro que muitas destas perguntas ficam sem resposta mesmo, apenas na base da imaginação. Muitos documentos se apresentam bem amarelados, denotando que as histórias dessas vidas já aconteceram há muito tempo. Alguns, parece que estiveram na guerra (dos farrapos...) de tão destruídos que estão. Outros são mais recentes, histórias ainda acontecendo. Tem os bem conservados, a demonstrar o valor que representam.
De tudo isso se percebe que não importa a idade dos papéis, as perguntas podem ser atuais. E podem ser formuladas a nós mesmos, enquanto também personagens de nossa própria história, ainda em tempo de ser vivida ou modificada.
A História da humanidade, afinal, é assim também, feita de documentos. Por isso sua importância. Na verdade, os documentos falam... É preciso, apenas, entendê-los.

sábado, 15 de maio de 2010

"O caminho da vida pode ser o da liberdade e da
beleza, porém, desviamo-nos dele.
A cobiça envenenou a alma dos homens, levantou
no mundo as muralhas do ódio e tem-nos feito marchar
a passo de ganso para a miséria e os morticínios.
Criamos a época da produção veloz, mas nos
sentimos enclausurados dentro dela.
A máquina, que produz em grande escala,
tem provocado a escassez.
Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa
inteligência, empedernidos e cruéis.
Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
Mais do que máquinas, precisamos de
humanidade; mais do que de inteligência, precisamos de
afeição e doçura!
Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo estará perdido."

(Charles Chaplin, em discurso proferido no final do filme O grande ditador.)

Dondocas não... Guerreiras!!!

Dia desses fiquei chateada com uma coisa. Cheguei esbaforida e atrasada, como sempre, à reunião mensal da Liga Feminina de Combate ao Câncer de Sapiranga e peguei a conversa pela metade. Estavam contando o que a filha de uma das voluntárias relatou. Que em aula, um professor seu dissera que na Liga só iam “dondocas” ou mulheres que não tinham o que fazer. Isto provocou mais do que indignação, uma tristeza e quase um desânimo em todas as presentes. E também uma constatação: muitas pessoas não sabem o que é a LIGA, nem conhecem o seu trabalho. A reunião acontece uma vez por mês às 18h da primeira quarta-feira do mês. Fora isso, a Liga atende mais de setecentos pacientes no município de Sapiranga, assistindo os doentes e seus familiares. Agenda consultas, encaminha e faz exames, repassa medicação, comprada pela própria LIGA ou doada, patrocina o atendimento médico, cirurgias e o tratamento todo, sem falar nos serviços de apoio como atendimento psicológico, nutricionista, palestras de prevenção, cursos de pintura e artesanato e entrega de cestas básicas para as famílias dos doentes carentes.
Tudo isso necessita de uma estrutura, uma logística. Necessita de mão de obra, material, equipamentos, pessoas capacitadas ou apenas com boa vontade. As voluntárias se desdobram como podem para administrar e poder manter tudo isso. Mas sempre falta gente e sobra serviço. E sabem quanto elas recebem por isso? O agradecimento dos pacientes e suas famílias. Nada mais. Nem um centavo. Para todas, acredito que este reconhecimento vale muito mais do que qualquer outra coisa, inclusive dinheiro, se fosse uma atividade remunerada. Há um revezamento, é óbvio. E cada uma participa de acordo com suas possibilidades e disponibilidades. Mas tem algumas voluntárias que estão na linha de frente, comparecem diariamente e carregam o piano sozinhas, como se diz. Quando faltam recursos para medicamentos, alimentos ou para pagar as contas, lá vão elas promover um chá, um evento para angariar fundos, ou mesmo pedir colaboração a entes públicos e privados. Contam com a valiosa colaboração das entidades e clubes de serviço, que lhes destinam recursos sempre que possível. Mas o trabalho não tem fim. Quem já foi atendido ou teve um familiar seu atendido pela Liga, sabe do que estou falando. Da dedicação, do desprendimento e da esperança que as voluntárias levam a quem precisa. Há aquelas que viram a noite trabalhando em eventos, quando isso se faz necessário. As que visitam as famílias dos doentes, levando uma palavra de conforto e alguma perspectiva, as que vão aos lugares mais inóspitos esclarecendo e ensinando cuidados de prevenção, as que preparam os alimentos servidos para os doentes, as que fazem a parte administrativa, enfim...
E pensam que elas trabalham com cara de chuchu murcho? Nada disso, os semblantes são alegres, seu entusiasmo contagiante. Estão impregnadas pelo espírito comunitário, pela necessidade de se doar ao próximo. E então, o que importaria se fossem “dondocas”, ou mulheres “sem ter o que fazer”? Na verdade, não são. Grande parte das voluntárias tem seu próprio trabalho e se desvia dele para poder dedicar algum tempo para ser solidária. E todas tem sua própria família, seus afazeres. O que as move então?
A Liga Feminina de Combate ao Câncer já atua em Sapiranga há 15 anos. No dia da reunião ficamos pensando que talvez precisássemos esclarecer melhor a comunidade sobre o que é a LIGA e como funciona. É o que estamos tentando fazer, e por isso estou escrevendo essas linhas. Mas nada se compara a conhecer o trabalho “in loco”. Por isso, fica o convite: venha conhecer a LIGA, participe de suas promoções, ou apenas pergunte a alguém que já foi atendido. Mas pode ter certeza de uma coisa: se quiser encontrar alguma “dondoca”, vai se decepcionar... Lá só tem guerreiras.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

O direito de ser mãe

Apesar de lidar com questões práticas e muito concretas, sempre fui daquelas pessoas um pouco românticas. Que às vezes sonham acordadas e tudo mais. Mas um romantismo me escapou: tive medo da maternidade, um dia. Não sabia nem explicar porque, se era receio de criar um vínculo tão permanente ou medo do parto ou o que. Sei que quando me descobri grávida de minha primeira filha, chorei. E não era mais criança, tinha então 28 anos, já tinha até casado. Chorei de insegurança, de medo de como seria. Teria que interromper o trabalho, o que poderia oferecer para esta criança? Saberia ser mãe, como foi a minha mãe? E, para completar, meu pai havia partido há pouco tempo, então imaginava o quanto ele teria gostado de ter um neto, e não teve tempo de conhecer... Fiquei angustiada por um tempo, até que a ficha caiu.
Foi numa manhã, indo pro trabalho, no meu fusquinha azul, lembro muito bem... Senti, de repente (quer dizer, após alguns dias de reflexões e divagações, que eu naquele tempo já era dada a isso), o quanto de importante eu era diante da natureza, carregando uma vida dentro de mim e sendo responsável por ela. É, foi um insight, ou chamem como quiserem. O caso é que este sentimento, que talvez já existisse, mas estava mascarado pelo medo, fez com que eu me achasse uma pessoa capaz de tudo, viesse o que viesse pela frente. Que o mundo não era nada, podia acontecer qualquer coisa eu estaria, como de fato estava, feliz. Foi uma felicidade aprendida, não tenho vergonha de dizer. E o melhor ainda estava por vir. Foi quando ela nasceu. Se existe um momento em que o sonho vira realidade, esse é o momento. Alguém novo, uma nova pessoa e eu ali fazendo parte de tudo. Não existe emoção maior. Depois, tive mais dois filhos. A mesma emoção. A vida se repetindo. Maravilhosamente, se repetindo. Então, os sorrisos, as surpresas, o entusiasmo vida afora. Claro, também os sustos, preocupações, noites pouco dormidas. Mas isso são detalhes. Quando crescem, novas perspectivas trazem novas situações, novos medos e dificuldades. Também novas alegrias, conquistas, e a caminhada continua. E, de repente, passam a nos ensinar coisas. Sabem fazer o que não sabemos. Quando vejo, por exemplo, a filha do meio e o caçula tocando piano, sinto que é uma parte de mim que se realiza neles. Sei que terão suas vidas, que um dia irão bater asas, mas talvez eu possa ser seu porto para uma parada...
Nascidos do ventre ou do coração os filhos serão para sempre filhos, para todas as mães. Tem aquele poema do Gibran que diz “vossos filhos não são vossos filhos, são os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.” E a vida se repete... Maravilhosamente...

domingo, 2 de maio de 2010

Volver a Los 17

Mercedes Sosa
Composição: Violeta Parra


Volver a los diecisiete después de vivir un siglo
Es como descifrar signos sin ser sabio competente,
Volver a ser de repente tan frágil como un segundo
Volver a sentir profundo como un niño frente a Dios
Eso es lo que siento yo en este instante fecundo.

Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si.

Mi paso retrocedido cuando el de ustedes avanza
El arco de las alianzas ha penetrado en mi nido
Con todo su colorido se ha paseado por mis venas
Y hasta la dura cadena con que nos ata el destino
Es como un diamante fino que alumbra mi alma serena.

Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si.

Lo que puede el sentimiento no lo ha podido el saber
Ni el más claro proceder, ni el más ancho pensamiento
Todo lo cambia al momento cual mago condescendiente
Nos aleja dulcemente de rencores y violencias
Solo el amor con su ciencia nos vuelve tan inocentes.

Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si.

El amor es torbellino de pureza original
Hasta el feroz animal susurra su dulce trino
Detiene a los peregrinos, libera a los prisioneros,
El amor con sus esmeros al viejo lo vuelve niño
Y al malo sólo el cariño lo vuelve puro y sincero.

Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si.

De par en par la ventana se abrió como por encanto
Entró el amor con su manto como una tibia mañana
Al son de su bella diana hizo brotar el jazmín
Volando cual serafín al cielo le puso aretes
Mis años en diecisiete los convirtió el querubín.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Trabalho: direito, obrigação ou realização?

O que dizer? Que bom seria se refletir pelo Dia do Trabalho nos levasse a uma resposta perfeita. Muitas análises e estudos foram feitos ao longo dos tempos, para explicar a evolução e a importância do trabalho. Na história da humanidade, muitas vezes o trabalho foi tido como castigo. Por isso, vem associado, algumas vezes, a aborrecimento.
O trabalho pode ser entendido a partir dos conceitos econômico, filosófico e jurídico. O conceito econômico de trabalho, na visão de Francesco Nitti, é “toda energia humana empregada tendo em vista um escopo produtivo”. Filosoficamente falando, trabalho vem a ser toda atividade realizada em proveito do homem. É todo o esforço humano, consciente e voluntário, no sentido de realizar um fim de interesse do homem. E o conceito jurídico, formulado por Carlos Alberto Barata e Silva, refere que “é a atividade humana aplicada à produção”, sendo que esta atividade deve ser prestada em favor de outro sujeito, em troca de uma retribuição, de modo a importar numa relação jurídica entre os dois sujeitos. Nesta relação bilateral, intersubjetiva, repousa a importância do trabalho para o Direito.
Se, porventura, for encarado apenas como um meio de sobrevivência, de tirar o sustento, pode vir a ser comparado com sacrifício. Contudo, verifica-se que pelo trabalho o homem desempenha o seu grande papel, o de transformar, criar e realizar. Todo o progresso alcançado até hoje pela humanidade é fruto do trabalho. A estagnação, a falta de trabalho traz desesperança e humilhação. A força presente em todas as criaturas humanas clama por aproveitamento. É uma oportunidade de crescimento, uma lei da natureza.
Poetas já escreveram versos dedicados ao tema, como Gonzaguinha: “Um homem se humilha se castram seu sonho, seu sonho é sua vida e a vida é trabalho. E sem o seu trabalho, um homem não tem honra. E sem a sua honra se morre, se mata. Não dá pra ser feliz... Não dá prá ser feliz...”
Não dá mesmo.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A fogueira das vaidades

Não basta sermos bons. Temos que ser os melhores. Não basta estarmos bem, temos que estar acima da média, com todos os olhares e atenções voltados em nossa direção. O ser humano é engraçado, para não dizer outra coisa. Busca sempre a superação, mas dói quando o outro também o faz. E dói mais quando o outro alcança um sucesso que não obtivemos. Não queremos muita concorrência, só aquela necessária a manter as comparações e, de preferência, quando o título “the best” for nosso. Detestamos que alguém elogie o outro mais do que a nós, daí desdenhamos e diminuímos aquele, para que chegue ao nosso nível. Ver os defeitos, os erros, as dificuldades alheias, e propagá-las é uma prática bem comum. Quando rotulamos alguém por um erro ou uma falha, não deixamos que a evolução cumpra o seu papel e mostramos que nosso campo de visão não vai além do próprio umbigo. Quando nos colocamos acima dos outros, segundo nosso próprio julgamento, demonstramos nada mais do que pretensão e uma boa dose de arrogância. Querer ser despojado e se incomodar com o sucesso do outro é algo francamente duvidoso. Oportunidades, todos tem. Alguns aproveitam, outros desperdiçam e outros, ainda, correm atrás...

E se a justiça fosse o equilíbrio entre as relações?

O processo judicial deveria ser a última instância para restabelecer um direito violado ou restaurar a justiça. Contudo, vemos com certa freqüência, por qualquer pequena desavença, por algum descontentamento, ou por as coisas não correrem da forma como se gostaria, as pessoas dizerem sem papas na língua: “te meto um processo”. Algumas vezes, sequer tenta-se a conversação para sanar um desentendimento. Prova disso são as inúmeras questões resolvidas na primeira audiência, a tal de tentativa de conciliação. Precisa chegar na frente de um juiz para entrar num acordo? O que impedia o entendimento antes? Falta de quem conduzisse ou intermediasse o assunto? Teimosia mesmo? Ou alguém estava realmente querendo levar alguma vantagem sobre o outro? Nesse caso, temos também aqueles que se escondem por trás do que sabem ser a morosidade da Justiça para dizer “vá procurar seus direitos”.
E o Judiciário, a cada dia mais abarrotado de processos, movimenta enorme estrutura, que envolve trabalho humano, material, tempo e dinheiro. Aí, muitas vezes, o pai ausente, o vizinho briguento, aqueles que burlam a lei, ganham um tempo a mais para cumprirem suas obrigações. Enquanto isso, processos e mais processos aguardam o andamento, a apreciação do Judiciário na vala comum com tantos outros. Não quero dizer com isso que o processo é desnecessário. Não! Pelo contrário, o processo legal é imprescindível e, muitas vezes, o único meio possível para defender e garantir direitos afrontados, restaurar a ordem e cumprir procedimentos que a lei exige. Contudo, litigar por litigar, parece algo que, ao invés de solucionar, cria entraves.
Não me interpretem mal, colegas advogados. Nós, mais do que ninguém, sabemos o quanto podemos contribuir para o deslinde de uma questão, sem precisar ingressar com o processo judicial, desde que usemos o bom senso e tentemos sinceramente conduzir um acordo. Certamente há casos em que não há outra solução. Mas há outros tantos, que não precisariam bater às portas do Judiciário. Aí se instala uma discussão quase filosófica, porque tem a ver com o senso de justiça e de responsabilidade de cada um. Tem a ver com a correta acepção dos termos “direitos” e “deveres”, onde um não existe isolado do outro. Existe a contrapartida. A cidadania quando exercida traria como conseqüência o equilíbrio entre as relações. Digo traria, pois ainda vemos que o ideal está longe de ser alcançado. Mas que o acesso à Justiça seja um direito legitimamente exercido.

sábado, 10 de abril de 2010

Política X Poesia

Política não é poesia. Mas poderia ser. Por que tantos se arrepiam e até tem calafrios quando se fala em política? Dá medo só de pensar na dita cuja. Quando deveria ser o contrário, os homens de bem deveriam ser atraídos por ela. Epa, então a política é feita por homens maus? Bem... Vejamos. É que muitos que enveredaram por estas sendas, não souberam honrar o voto de confiança que receberam. Simplória, assim, a explicação? Nem tanto. A política, a boa política, anda meio esquecida. O que se tem visto por aí é o resultado de atos de maus políticos. Daqueles que, investidos de um poder que julgam divino, esquecem o motivo pelo qual foram escolhidos e quem representam. E, ao esquecer, cometem crimes de toda ordem, deixam faltar escolas e hospitais, desviam recursos, aceitam propinas, promovem o favorecimento de seus pares. A verdadeira política pode, sim, ser poética. O filósofo Aristóteles ensinava, em 1252 aC, que política é a ciência que tem a felicidade humana como objeto. Quer algo mais poético que a felicidade humana?

terça-feira, 6 de abril de 2010

Humildade

A reverência feita entre os participantes Dourado e Dicesar, no último sábado, no programa BBB10, da rede Globo, foi um momento que emocionou. Mesmo não sendo o programa mais recomendável para se assistir, o ato simbólico serviu como exemplo digno de ser seguido. Depois de se digladiarem por semanas a fio, acolhendo sugestão do apresentador Pedro Bial, os dois como os antigos lutadores japoneses ficaram frente a frente e se curvaram um ao outro, num sinal de respeito, humildade e perdão. Podem falar mal do programa, eu também falo às vezes, mas a cena foi bonita. Lembrou que todos são iguais e que, não importa quem vença, ao final dos combates a vida continua.
Nada impede que se reconheça o valor do adversário e, muito mais importante, que se reconheça que mesmo tendo motivações diferentes, não podemos deixar a arrogância ditar as regras de nosso comportamento. Quantas coisas seriam evitadas, quantas lutas desnecessárias, se as pessoas soubessem cultivar a humildade. “Ninguém é mais do que ninguém e nem menos”, disse em sua crônica da semana passada o Adão Martins. Foi o que pregou o sacerdote na missa de Domingo de Ramos, quando em sua homilia relembrou que Jesus entrou na cidade de Jerusalém montado num jumento e não em um brioso cavalo. O jumento significa humildade, obediência, mansidão. O maior homem do mundo, uma pessoa humilde. A humildade é reverência pelo Universo, pelo outro ser humano. No yoga existem posturas que ensinam e representam a humildade. É verdade que anda meio esquecida nesses tempos de tanta pomposidade, de aparências, onde se vale mais quando se é muito importante do que quando se é apenas humano...
Uma pausa para refletir e recomeçar, é o que nos proporciona a Semana Santa. Um momento de introspecção. Que possamos parar alguns minutos essa correria louca iniciada no final do ano passado, atravessando todo o verão, as férias, o início de ano e o carnaval. É chegada a hora de se colocar a caminho mais uma vez, se possível com as forças renovadas. E com a consciência de que a humildade é, sim, uma virtude.

sábado, 27 de março de 2010

"Ad vocatus"

Ser advogado é muito mais que só fazer petições e ir a audiências. Também é. Mas não se esgota por aí. É desempenhar um papel social, interagindo com a comunidade. Chamar a sociedade ao debate e à reflexão. Buscar, constantemente, o equilíbrio entre direitos e deveres. Ter um envolvimento com as causas que se quer defender.
Ao exercer a advocacia, entramos na vida e na intimidade de outras pessoas. Isso pressupõe respeito mútuo e ética nas relações. Para o advogado é “apenas” trabalho, mas para a pessoa que o procura é, muitas vezes, toda a sua vida. Vida que chegou numa encruzilhada ou que sofreu um percalço. Há muito mais por detrás da satisfação dessa necessidade do que uma simples prestação de serviços contratada. É onde se vislumbra uma solução, uma esperança de ter de volta algum direito afrontado, para que a vida siga seu curso normal. O advogado para tanto empresta as armas de que dispõe: seu conhecimento da lei, sua disposição de entrar em confrontos quando falham todas as demais tentativas de solução e sua persistência em alcançar a Justiça.
“Ad vocatus” é a expressão em latim da qual deriva o vocábulo “advogado”. Significa o que foi chamado. No Direito romano indicava a terceira pessoa que o litigante chamava perante o juízo para falar a seu favor ou defender o seu interesse.
Além disso, a advocacia vem imbuída de toda uma participação na busca da cidadania, de uma sociedade mais justa e mais fraterna, função esta que foi destacada pelo ex-presidente nacional da OAB, Hermann Assis Baeta, com a seguinte frase: “o advogado é, antes de tudo, um cidadão que não fica à margem, acima ou abaixo da conceituação destinada ao ser político”.

sexta-feira, 19 de março de 2010

“Devagar se vai ao longe” ou “ao divagar se vai longe”?

Parece um jogo de palavras. São duas colocações. A primeira expressão é um ditado bastante conhecido “devagar se vai ao longe”, nos reportando à paciência que necessitamos ter com certas coisas, se queremos, de fato, vê-las se concretizar ou acontecer.
A outra expressão “ao divagar se vai longe” nos remete a algo bem diferente: a como nossos pensamentos podem nos levar a conclusões, interpretações e até perspectivas, sonhadoras ou não, de nossa realidade. Em comum, além da semelhança na sonoridade, a distância a ser percorrida até encontrarmos o fim. As divagações podem nos fazer viajar de olhos fechados (ou bem abertos), sem sair do lugar, para muito longe. O tema se presta a mais deduções, querendo insinuar que damos às coisas a interpretação que queremos... Como a mesma frase ou a mesma atitude podem soar diferentes para uma e para outra pessoa, que delas se apropria, atribuindo-lhes diferentes significados a partir de suas experiências e valores.
Podemos explorar ou expandir os assuntos até o infinito, devagar ou divagar, mas é prudente evitarmos a dispersão. Senão acabaremos, como se diz, “viajando na maionese” e não chegaremos a lugar algum. Lembro-me de repente de uma música que diz “longe se vai, sonhando demais, mas onde se chega assim?” Então, esta é a grande questão: onde chegar, o que buscar?
E é assim que precisamos ser e ter objetivos, na vida. Porque mesmo devagar é preciso saber qual a direção a seguir, a nossa direção. E divagar... Bem, divagar é preciso às vezes...

Cruzamento perigoso

Pare, olhe, cheire! E ouça também, se conseguir... Reféns de um progresso que nos causa danos e transtornos ao invés de proporcionar conforto e satisfação, ainda tentamos experimentar o mundo ao nosso redor com a simplicidade de nossos sentidos. Pouco provável que se consiga. Nas ruas, se não tropeçamos nos produtos expostos nas calçadas, corremos o risco de engasgar com a fumaça e a fuligem do ar. E se quisermos nos queixar ou apenas confidenciar a alguém nosso infortúnio, só gritando, pois o carro de som que anuncia a boa nova oferta (alguém quer saber?) está com o botão do volume emperrado... no máximo. O diálogo? Foi prás cucuias. O barulho dos shoppings, das praças de alimentação, tornam impossivel qualquer tentativa de conversa entre as pessoas. É insuportável. Mesmo em casa quase não se pode ouvir a voz do outro. Música alta de vizinhos “desligados”, buzinas exageradas, trânsito maluco ao lado de outdoors por todo lado, lixo no meio das ruas e calçadas, e nos dizemos civilizados? Até quando vamos suportar? Até quando o planeta vai agüentar tanta agressão? Depois ficamos questionando o porque do stress, das doenças e da baixa qualidade de vida. Parafraseando um jargão antigo: ou o planeta acaba com a poluição ou a poluição acaba com o planeta. E conosco também.

sexta-feira, 12 de março de 2010

A MULHER DO SÉCULO XXI

A mulher dos nossos dias trabalha, dirige empresas, estuda, pilota aviões, atua na política, representando o povo e governando cidades e nações. Coisas normais, para quem já nasceu numa época em que tudo isso pode ser feito sem a autorização de pais, maridos ou irmãos. Na verdade, são conquistas, são bandeiras carregadas por muitas e por muito tempo. A mulher atual ainda ama, constitui família, e, pasmem, tem filhos e os cria, tentando torna-los cidadãos de verdade. Simplesmente um ser humano, nem mais nem menos do que o seu companheiro de jornada.
Mas mulher também tem lado “B”. O lado que sonha. E sonha com sonhos quem sabe até impossíveis. E se deixa levar por devaneios, ou talvez se dê o direito de vislumbrar outro mundo, outros sentires, algo que lhe soe ideal. Algo que não seja sua realidade diária, suas infinitas obrigações, seus deveres, suas atribuições de mulher maravilha. Imagina futuros tão diferentes e tão presentes...
Aliás, não quer ser mulher maravilha, quer apenas ser feliz. E ser feliz é um sonho, muitas vezes alcançado apenas no lado “B” da vida...

quarta-feira, 10 de março de 2010

Lembranças de "O Ferrabraz"

Chegávamos cedo todos os dias. Tudo era datilografado. Na era digital em que vivemos é bom explicar que datilografar era “escrever à máquina”. As páginas do Jornal “O Ferrabraz”, no final da década de 1970, eram montadas em enormes folhas de desenho, o original bem maior que a publicação. O nome do periódico, talvez uma homenagem ao morro que emoldura e guarda a cidade.
Antes de começar a sessão nostalgia, um pouquinho de História, para nos localizarmos. O jornal “O Ferrabraz” teve duas fases. O esclarecimento histórico a seguir, baseado em texto escrito por Daniel Luciano Gevehr, foi extraído de pesquisa publicada na revista eletrônica “Protestantismo em Revista”, do Núcleo de Estudos e Pesquisas do Protestantismo (NEPP) da Escola Superior de Teologia. Diz ele que “a primeira fase começa com sua fundação, em 1º de dezembro de 1949, sob a direção de Guilherme José Powolny, nascido na Alemanha, no ano de 1904. Powolny veio para o Brasil com apenas quatro anos de idade, vivendo grande parte de sua juventude em Porto Alegre. Tipógrafo de profissão, Powolny foi diretor e proprietário da Gráfica Sapiranga Ltda. e também diretor do jornal O Ferrabraz. Porém, o fato de ser estrangeiro, obrigou-o, por motivos legais, a colocar oficialmente outra pessoa como proprietário oficial de seu jornal. Esta pessoa foi Leopoldo Luís Sefrin (filho de Leopoldo Sefrin)”. Assim, “durante dez anos, Powolny, Nordhausen e Tito Lima foram os responsáveis pela edição mensal do jornal, que contava ainda com a colaboração de pessoas do local e tinha como filosofia, “publicar as notícias de interesse coletivo da população de São Leopoldo. ” E continua: “A segunda fase do jornal corresponde ao período em que Olival Monteiro assumiu sua direção.” Isto ocorreu em 1961 e a partir deste momento, o jornal passa a ser quinzenal. Foi editado até o ano de 1969, quando teve suas edições encerradas por motivo de censura e somente reaberto em 1975.
As lembranças a que se refere o título deste artigo tem a ver justamente com esta segunda fase, quando a publicação já era semanal. As notícias, quentíssimas, chegavam ou eram buscadas direto na fonte das mais variadas maneiras. O nosso fotógrafo oficial e repórter, também esportivo, entre outras atribuições, era um caso à parte. Tinha um fusca vermelho equipado com um radioamador PX e uma enorme antena atrás que era uma atração na cidade. Não conseguia chegar discretamente a lugar algum. Uma pela vistosa antena, e outra pelo ronco da fusqueta, que era qualquer coisa de anormal (isso quando pegava). Era o Valdir Pedro de Oliveira (por onde andará?), muitos devem lembrar. Dedicava quase duas páginas do jornal ao time da cidade o “Associação”, dando notícias e resultados de jogos e tecendo intermináveis comentários.
A equipe jornalística da época era formada, ainda, pela Ivete Bissoni, chefe de redação e responsável pela parte social, pela Denise Maria Dias, que acumulava as funções de angariar publicidade e repórter policial, marcando presença na Delegacia de Polícia da Sapiranga. Imaginem quantas ocorrências nos anos 70... Tinha também a Zélia da Silveira, diagramadora (na base da tesoura e cola mesmo) e eu, que era a digitadora oficial das laudas (matérias e textos), e já utilizava então uma moderna máquina IBM elétrica, com corretivo. O proprietário do jornal, Olival Monteiro, como administrador de visão, sempre nos deixava à vontade para trabalhar. Nós, a equipe, é que decidíamos a pauta do jornal, o tema a que daríamos mais ênfase, qual seria a “manchete”da capa. Ele delegava bem as tarefas a cada um, o que nos oportunizou crescimento pessoal e profissional. Sua base era no escritório de contabilidade ao lado do jornal. Mesmo ausente fisicamente da redação, ele se fazia presente através da marca que imprimia na condução do jornal. Olival mandava o editorial toda semana, no qual a Ivete e eu sempre tínhamos que dar nossos pitacos, pois ele privilegiando a expressão de idéias, atropelava o português, segundo a nossa ótica. Quando chegava quarta-feira, dia de fechar o jornal, todos faziam de tudo: a Denise digitava, a Zélia fotografava, o Valdir vendia publicidade de última hora, eu diagramava e redigia, e a Ivete lia e relia tudo para ver se não faltava (ou sobrava) algo. Tinha ainda o Jadir Jara, que era o entregador, mas metia a mão na massa junto conosco. Terminado o sufoco, conferido o conteúdo, as fotos e a publicidade e inseridas as últimas notícias da semana, tínhamos ainda a árdua missão de levar os originais, de ônibus, até São Leopoldo, onde eram entregues ao motorista de outro ônibus que os levava até Venâncio Aires, local em que era realizada a impressão do jornal (em off-set). Na sexta-feira de manhã estava pronto para circular (vejam que levava mais de um dia para rodar a impressão, hoje se faz em poucas horas). Era preciso chegar mais cedo ainda neste dia, para colocar de próprio punho o nome dos assinantes e providenciar a distribuição do jornal que era feita pelo Olinto Monteiro, em sua Variant verde limão e às vezes pelo Toninho. Tudo tinha que estar entregue até o meio dia.
Ali se plantou um pouco a semente da comunicação em Sapiranga. Muitas eram as críticas, até porque existia um jornal na cidade vizinha que não era diário ainda, mas saía três ou quatro vezes por semana, então as nossas notícias quase sempre já estavam meio defasadas na sexta-feira. Mas, considerando-se que nem existia celular, até que a gente era bem atualizado...
Hoje, com o advento da informática e outras tecnologias quase tudo mudou. Digo quase, porque mudou a estrutura, a tecnologia, mas a paixão de quem trabalha com jornalismo continua a mesma. Vejo que o pessoal continua a suar a camiseta, a falar com entusiasmo das coisas, das matérias, da profissão enfim. São herdeiros de uma época em que se trabalhava por paixão mesmo, pois só assim para enfrentar tantas contrariedades.
Aos poucos fomos mudando, tomando outros caminhos, a vida exigia. Ficou a lembrança daqueles bons tempos. Vimos nascer o vôo livre na Cidade das Rosas, as festas das rosas eram realizadas de dois em dois anos, tudo devidamente documentado e noticiado. Assistimos à explosão da indústria calçadista, época da chegada de muitíssimos dos hoje habitantes de Sapiranga, vindos de diversas regiões do estado. Quase todos se conheciam e por isso o jornal era mais uma confirmação daquilo que a cidade vivenciava. Digno de lembrança também o 1° concurso estadual de dança - Dancing Days - época do John Travolta. O jornal foi o idealizador, organizou e promoveu em conjunto com Clube 19 de Julho. Foi um sucesso total. Semanas e semanas de concurso, quando pessoas da região compareciam à boate Embarkasom aos sábados para participar ou apreciar o concurso. Fomos até a um programa de televisão de Porto Alegre para fazer a divulgação O concurso culminou com um grande baile no salão principal do Clube, quando foi escolhido o casal vencedor.
A Biblioteca Pública Municipal guarda, ainda hoje, em seus arquivos alguns exemplares do Jornal “O Ferrabraz” daqueles tempos. Se alguém tiver interesse, poderá matar sua curiosidade indo até lá e dando uma olhada.
Feliz aquele que tem boas histórias para contar. Nós temos. É maravilhoso poder compartilhar um pouco destas recordações no aniversário de 55 anos da cidade, pois um povo que não valoriza a sua própria história perde uma oportunidade única de aproveitar as lições do passado, vislumbrando um futuro melhor, construído no presente.