sexta-feira, 16 de julho de 2010

Eternamente em cima do muro

Tem gente que não se posiciona nunca. Não se compromete, não escolhe, não se expõe e nada faz que possa lhe ser perguntado por quê. Talvez “por que” seja difícil explicar. Às vezes penso que as pessoas tem medo da transparência. Preferem ser enganadas, induzidas, ludibriadas. Senão, por que o espanto quando alguém anuncia com clareza seus propósitos políticos? Causa surpresa e outras reações, digamos assim, desfavoráveis... Será preferível que o “simpático” candidato seja “apenas” uma pessoa desinteressada, cordial e atuante, sem que sequer faça menção à palavra “política”? As pessoas não estão acostumadas à transparência de intenções e isso é preocupante. Preferem ver segundas intenções em tudo.
Se alguém fizer algo em caráter puramente social e voluntário, ainda assim é interpretado como gesto político. Como no caso de uma amiga que resolveu promover uma tarde de entretenimento para crianças de uma vila da periferia, com direito a distribuição de lanches e brinquedos. Não tinha nada a ver com política, era apenas algo voluntário, pelo simples fato de querer ajudar crianças necessitadas. Mesmo assim, ao final do evento vieram lhe perguntar: afinal de que partido político ela era? Minha amiga disse que perdeu o chão. Não era nada disso e ninguém entendeu. Logo quiseram ligá-la a uma sigla partidária. Mas, tivesse ela anunciado que era, sim, de algum partido político, certamente também não lhe faltariam críticas, pois iriam dizer que se tratava de promoção pessoal.
É algo para se pensar. Talvez as raízes disso estejam na forma como é vista a política no Brasil. Os políticos representam a classe profissional menos confiável, relatou uma recente pesquisa publicada em jornais de grande circulação no estado. Mas e não dá para mudar isso? Não é impossível, mas que é difícil, isso é. Imagino que as pessoas pensem: se já está anunciando agora que é político, o que fará depois? E eu repito a pergunta: sim, o que fará? A resposta que se espera é uma só: que faça política, política séria para a qual realmente tenha sido eleito. Enquanto persistirem estes pensamentos de que política e políticos não prestam (e, infelizmente, há razões de sobra para se pensar assim), não se estará dando chance a mudanças. Já houve muitas oportunidades, outros dirão, e grande parte delas frustradas. Pois é, e então? Vamos abandonar a democracia? Ou seria a hora de todos iniciarmos um processo de verdadeira politização? Aliás, a quem mesmo interessa a desilusão com a política? Não seria por acaso àqueles que querem se perpetuar no poder, ou àqueles a quem não interessa mudar o sistema? Não estou defendendo alguém específico. Embora seja minha profissão como advogada, defender alguém, estou no momento, defendendo uma ideia. Nunca fui muito ligada em política, não da maneira como se vê atualmente. Mas, desde sempre, me tenho por um ser político. Como todos nós.
Você aguenta uma opinião diferente da sua? Começa por aí...

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