sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Pedagogia futebolística

O futebol tem regras que são respeitadas; a política também tem regras, mas quem as respeita? A própria torcida cobra a obediência à ética no jogo. E como isso tem importância! Imagine um juiz que favoreça um dos times, que deixe de apitar uma falta, que não se importe com as agressões em campo... Não digo que seja morte certa na saída, mas que será vaiado e xingado não tenham dúvidas. Para não falar de sua pobre mãe, o que terá de suportar... O torcedor exige observância das regras, durante a partida. No futebol burlar regras significa ser punido. Na política, nem sempre. Cadê a torcida fiscalizando? Cadê o povo cobrando e exigindo comportamento ético dos candidatos e dos eleitos? Quase não se vê. Preferível deixar prá lá... E assim se perpetua uma postura, um posicionamento perante uma realidade criticada por todos, mas que está pedindo uma ação, uma tomada de posição há muito tempo.
A ideia de que o futebol é um ótimo parâmetro para se analisar a política está exposta num artigo escrito pela filósofa Márcia Tiburi, na Revista Cult do mês de julho, sob o título “A ação e sua prostituição – a atualidade da Lei de Gerson e o futebol como pedagogia política”. Nele, a escritora discorre sobre a famosa Lei de Gerson, onde “o importante é levar vantagem em tudo”, que na verdade nada tem a ver com futebol, mas com uma campanha publicitária de uma marca de cigarros. Ela traça um paralelo entre futebol e política e também menciona o fato de que o jogador de futebol sempre terá de mostrar o que promete diante de sua torcida, que é bem mais complexa que a mera massa manipulada pela publicidade, no caso da política. É bem verdade que se ouve falar em corrupção entre patrocinadores dos times e no próprio primeiro escalão desse esporte. Mas fiquemos apenas com a imagem do campo de futebol, “único cenário da exposição da verdade de que ainda somos capazes”, segundo Marcia Tiburi, onde a torcida comparece para prestigiar e incentivar o seu time, e, em última análise, fiscalizar o que acontece.
Que tal se a política fosse uma arena, como um campo de futebol, e nós, o povo, fôssemos a torcida, atenta a cada lance, com a mesma atenção dedicada às jogadas dos craques, pronta para botar a boca no trombone? Aposto que as jogadas políticas seriam mais honestas e bem mais transparentes. E o medo da torcida?!

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