sábado, 15 de maio de 2010

Dondocas não... Guerreiras!!!

Dia desses fiquei chateada com uma coisa. Cheguei esbaforida e atrasada, como sempre, à reunião mensal da Liga Feminina de Combate ao Câncer de Sapiranga e peguei a conversa pela metade. Estavam contando o que a filha de uma das voluntárias relatou. Que em aula, um professor seu dissera que na Liga só iam “dondocas” ou mulheres que não tinham o que fazer. Isto provocou mais do que indignação, uma tristeza e quase um desânimo em todas as presentes. E também uma constatação: muitas pessoas não sabem o que é a LIGA, nem conhecem o seu trabalho. A reunião acontece uma vez por mês às 18h da primeira quarta-feira do mês. Fora isso, a Liga atende mais de setecentos pacientes no município de Sapiranga, assistindo os doentes e seus familiares. Agenda consultas, encaminha e faz exames, repassa medicação, comprada pela própria LIGA ou doada, patrocina o atendimento médico, cirurgias e o tratamento todo, sem falar nos serviços de apoio como atendimento psicológico, nutricionista, palestras de prevenção, cursos de pintura e artesanato e entrega de cestas básicas para as famílias dos doentes carentes.
Tudo isso necessita de uma estrutura, uma logística. Necessita de mão de obra, material, equipamentos, pessoas capacitadas ou apenas com boa vontade. As voluntárias se desdobram como podem para administrar e poder manter tudo isso. Mas sempre falta gente e sobra serviço. E sabem quanto elas recebem por isso? O agradecimento dos pacientes e suas famílias. Nada mais. Nem um centavo. Para todas, acredito que este reconhecimento vale muito mais do que qualquer outra coisa, inclusive dinheiro, se fosse uma atividade remunerada. Há um revezamento, é óbvio. E cada uma participa de acordo com suas possibilidades e disponibilidades. Mas tem algumas voluntárias que estão na linha de frente, comparecem diariamente e carregam o piano sozinhas, como se diz. Quando faltam recursos para medicamentos, alimentos ou para pagar as contas, lá vão elas promover um chá, um evento para angariar fundos, ou mesmo pedir colaboração a entes públicos e privados. Contam com a valiosa colaboração das entidades e clubes de serviço, que lhes destinam recursos sempre que possível. Mas o trabalho não tem fim. Quem já foi atendido ou teve um familiar seu atendido pela Liga, sabe do que estou falando. Da dedicação, do desprendimento e da esperança que as voluntárias levam a quem precisa. Há aquelas que viram a noite trabalhando em eventos, quando isso se faz necessário. As que visitam as famílias dos doentes, levando uma palavra de conforto e alguma perspectiva, as que vão aos lugares mais inóspitos esclarecendo e ensinando cuidados de prevenção, as que preparam os alimentos servidos para os doentes, as que fazem a parte administrativa, enfim...
E pensam que elas trabalham com cara de chuchu murcho? Nada disso, os semblantes são alegres, seu entusiasmo contagiante. Estão impregnadas pelo espírito comunitário, pela necessidade de se doar ao próximo. E então, o que importaria se fossem “dondocas”, ou mulheres “sem ter o que fazer”? Na verdade, não são. Grande parte das voluntárias tem seu próprio trabalho e se desvia dele para poder dedicar algum tempo para ser solidária. E todas tem sua própria família, seus afazeres. O que as move então?
A Liga Feminina de Combate ao Câncer já atua em Sapiranga há 15 anos. No dia da reunião ficamos pensando que talvez precisássemos esclarecer melhor a comunidade sobre o que é a LIGA e como funciona. É o que estamos tentando fazer, e por isso estou escrevendo essas linhas. Mas nada se compara a conhecer o trabalho “in loco”. Por isso, fica o convite: venha conhecer a LIGA, participe de suas promoções, ou apenas pergunte a alguém que já foi atendido. Mas pode ter certeza de uma coisa: se quiser encontrar alguma “dondoca”, vai se decepcionar... Lá só tem guerreiras.

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