domingo, 1 de agosto de 2010

Crônica de um amor genuíno

O ano era 1973. Os tempos eram difíceis e meio sombrios. Mas não para nós, alunos da 6ª série “A” da Escola Normal Coronel Genuíno Sampaio. O soar da campainha e a sineta da dona Leda colocavam fim ao primeiro ato – o encontro antes da aula, no pátio da escola. Filas formadas, devidamente fiscalizadas pela dona Leda e pelo Dotta, o temido diretor do colégio, na época, dirigíamo-nos para a sala de aula, palco dos demais atos do espetáculo.
A sala de aula de nossas 6ª, 7ª e 8ª séries, foi o palco do início de nossas vidas. Ali aprendemos como ninguém a arte da amizade, descobrimos os primeiros segredos do amor, sofremos muito com o que achávamos serem as dificuldades e desilusões da vida, mas na verdade eram apenas as primeiras experiências da juventude.
Na adolescência vestida de US Top, a calça azul e desbotada que você podia usar do jeito que quisesse, tivemos todos os sonhos possíveis, muitas vezes interrompidos, é claro, pelos sermões inesquecíveis dos professores nos chamando de volta à realidade.
Passaram-se três anos de nossas vidas, com pressa de que chegasse logo o fim. Todos os dias, ao final das aulas, víamos desfilar diante de nós todos os acontecimentos da tarde e do dia. As lições, as conversas, as coisas que não davam certo, as conquistas. E ficávamos pensando: como seria o futuro? Mal sabíamos que esse tal de “futuro” chegaria mais depressa do que poderíamos imaginar.
Hoje somos muito mais do que adultos. Temos nossas profissões e nossas famílias, trabalhamos e vivemos a vida que escolhemos prá nós. Mas ainda somos alunos. A vida agora é nossa professora. Podemos dizer, sem medo de errar, que tudo o que aprendemos depois do Genuíno foram acréscimos. Sim, porque o fundamento de tudo, o princípio do conhecimento, a base da convivência, foi ali que aconteceu, naquelas tardes onde ficávamos loucos para ver o tempo passar mais depressa. Ah! Se soubéssemos, o que hoje sabemos... Que o futuro chegaria tão rápido assim, e que agora já é passado...
Um por um dos professores nos deixaram um pouco do significado do saber e do aprender. Um por um dos colegas, agora já amigos, ensinaram alguma coisa sobre as relações humanas.
O Genuíno esteve de aniversário: completou 75 anos. Então, o que são e o que foram três anos? Para nós foi muito. Realizamos um encontro, no dia 30 de julho de 2010, para relembrar os velhos tempos e conversar sobre os rumos que a vida nos fez tomar. Nem todos puderam comparecer, mas haverão outras oportunidades e fizemos um pacto para trazer os faltosos e convidar a participar também os colegas de outras turmas.
Foi emocionante. Não há outra palavra para definir. Ver todas aquelas pessoas conversando, como se tivessem se despedido há uma semana e não há mais de trinta anos, foi algo inesquecível. As memórias de todos, muito boas, pois muitas histórias foram tiradas do fundo do baú. A dona Leda tocando a sineta e fazenda a chamada, antes do jantar; os pequenos depoimentos de cada um, segurando as lágrimas, como o Jaison; todos cantando a música "Amigos para sempre" acompanhando a Nana Bernardes, que gentilmente aceitou nosso convite para colocar música em nossas recordações... Ah! e os cadernos de "recordações" que apareceram... Tudo foi motivo para o clima alegre e a boa energia que se sentiu durante o encontro.
É feliz aquele que tem boas histórias para contar e, com certeza, nós as temos. É feliz aquele que, olhando para trás pode se sentir agradecido a Deus por ter amigos e tantas lembranças a compartilhar. Coelho Neto diz, com inspiração:
“A casa da saudade chama-se memória: é uma cabana pequenina a um canto do coração.”

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