sexta-feira, 7 de maio de 2010

O direito de ser mãe

Apesar de lidar com questões práticas e muito concretas, sempre fui daquelas pessoas um pouco românticas. Que às vezes sonham acordadas e tudo mais. Mas um romantismo me escapou: tive medo da maternidade, um dia. Não sabia nem explicar porque, se era receio de criar um vínculo tão permanente ou medo do parto ou o que. Sei que quando me descobri grávida de minha primeira filha, chorei. E não era mais criança, tinha então 28 anos, já tinha até casado. Chorei de insegurança, de medo de como seria. Teria que interromper o trabalho, o que poderia oferecer para esta criança? Saberia ser mãe, como foi a minha mãe? E, para completar, meu pai havia partido há pouco tempo, então imaginava o quanto ele teria gostado de ter um neto, e não teve tempo de conhecer... Fiquei angustiada por um tempo, até que a ficha caiu.
Foi numa manhã, indo pro trabalho, no meu fusquinha azul, lembro muito bem... Senti, de repente (quer dizer, após alguns dias de reflexões e divagações, que eu naquele tempo já era dada a isso), o quanto de importante eu era diante da natureza, carregando uma vida dentro de mim e sendo responsável por ela. É, foi um insight, ou chamem como quiserem. O caso é que este sentimento, que talvez já existisse, mas estava mascarado pelo medo, fez com que eu me achasse uma pessoa capaz de tudo, viesse o que viesse pela frente. Que o mundo não era nada, podia acontecer qualquer coisa eu estaria, como de fato estava, feliz. Foi uma felicidade aprendida, não tenho vergonha de dizer. E o melhor ainda estava por vir. Foi quando ela nasceu. Se existe um momento em que o sonho vira realidade, esse é o momento. Alguém novo, uma nova pessoa e eu ali fazendo parte de tudo. Não existe emoção maior. Depois, tive mais dois filhos. A mesma emoção. A vida se repetindo. Maravilhosamente, se repetindo. Então, os sorrisos, as surpresas, o entusiasmo vida afora. Claro, também os sustos, preocupações, noites pouco dormidas. Mas isso são detalhes. Quando crescem, novas perspectivas trazem novas situações, novos medos e dificuldades. Também novas alegrias, conquistas, e a caminhada continua. E, de repente, passam a nos ensinar coisas. Sabem fazer o que não sabemos. Quando vejo, por exemplo, a filha do meio e o caçula tocando piano, sinto que é uma parte de mim que se realiza neles. Sei que terão suas vidas, que um dia irão bater asas, mas talvez eu possa ser seu porto para uma parada...
Nascidos do ventre ou do coração os filhos serão para sempre filhos, para todas as mães. Tem aquele poema do Gibran que diz “vossos filhos não são vossos filhos, são os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.” E a vida se repete... Maravilhosamente...

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