sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Desta água não beberei...
Tudo aquilo que existe e se faz na face da Terra é passível de mudança. O eterno, o imutável, o insubstituível, sinto muito informar, não existe. Só se for a eternidade da morte, essa não muda. Enquanto houver vida, haverá movimento, haverá transformações. Por isso, aquele velho ditado: “nunca digas desta água não beberei...” Porque se a sede apertar até água suja pode salvar uma vida, como a dos trabalhadores chilenos presos numa mina a 700 metros de profundidade, que sobrevivem há cerca de 20 dias só bebendo água dos motores. Mas enfim, nada há de perpétuo nesta vida. Nem a mais nefasta injustiça, nem o bem supremo. O que hoje é, amanhã poderá não ser mais. Isso para falar mais uma vez da relatividade das coisas. Não sou ninguém para querer ensinar alguém. Aliás, sou aprendiz nesta vida. Mas o pouco (ou muito) que vivi até agora me mostrou que aquilo a que nos apegamos com unhas e dentes num determinado momento pode não ter toda essa importância num futuro próximo. E mais: podemos nos questionar porque em determinada ocasião aquilo foi tão importante que justificou um rompimento, uma reação ou um comportamento. O ser humano vive de expectativas, de incertezas e dúvidas. Mas traz consigo a esperança e isso é que o faz seguir em frente. O duro é quando não nos permitimos uma mudança, por mínima que seja, em nome de um absolutismo ou de um apego que assusta. Olhar uma questão ou situação por mais de um ângulo, ver a outra face, pode revelar surpresas, soluções ou um outro caminho. Abrir-se para o desconhecido, o novo, o diferente também é um modo de desenvolver uma nova perspectiva, dar-se oportunidade. É um direito que a própria vida nos dá.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
O que há por trás da alienação parental?
O assunto é delicado e preocupante. A síndrome de alienação parental é uma situação em que os laços afetivos entre pais e filhos são prejudicados pela influência de um ou de ambos os genitores. Não deixa de ser uma violência. É o caso de pais que não conseguem superar suas dificuldades sem envolver os filhos. No caso de uma separação, por exemplo, quando o pai ou a mãe incentivam ou até treinam a criança a romper laços com o outro genitor. Até parece mentira, mas por um sentimento de vingança, devido a não superação da ruptura da vida conjugal, a criança acaba sendo usada como instrumento de agressividade contra o ex parceiro. E isso se dá de diversas maneiras: excluindo o outro genitor da vida dos filhos, interferindo nas visitas, atacando a relação entre o filho e o outro genitor e denegrindo a imagem deste. Às vezes decisões importantes são tomadas sem a participação do outro genitor. Se a criança se mostra contente por ter estado com o outro genitor, é alvo de desagrado por parte daquele a quem demonstrou seu contentamento. Na questão da visitação, há um controle exagerado de horários previamente estabelecidos, sem a menor chance de flexibilizá-los. Sem falar na repetição de motivos ou fatos ocorridos entre o casal, críticas à competência profissional e situação financeira do ex-cônjuge, na tentativa de que a criança tome o partido de um deles. Há casos em que a criança é induzida a ser uma espiã da vida do ex-cônjuge. Tudo isto é muito triste e não se restringe à problemática jurídica, indo alcançar a esfera da psicologia e da psiquiatria. A criança alienada guarda sentimentos e crenças negativas sobre o outro genitor, muitas vezes exageradas, inconsequentes e irreais, além de apresentar um sentimento constante de ódio e raiva. Pode ocorrer de a criança se recusar a visitar ou se comunicar com o outro genitor. Com o decurso do tempo tais circunstâncias tendem a se agravar, fazendo com que as crianças vítimas da síndrome de alienação parental fiquem mais propensas a utilizar drogas, apresentar distúrbios psicológicos como depressão, pânico e ansiedade, baixa auto estima e problemas de relacionamento, quando adultas. Especialistas apontam como caminho para solucionar o problema que os pais busquem, sinceramente, compreender o filho, protegendo-o de discussões ou situações tensas com o outro genitor. Também o auxílio psicológico e jurídico deve ser procurado, pois o problema de alienação parental não desaparece sozinho. Lembrando que os filhos precisam de pai e mãe. Podem não ser mais um casal, mas continuarão sendo para sempre pai, para sempre mãe. Disso não há dúvidas.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Pedagogia futebolística
O futebol tem regras que são respeitadas; a política também tem regras, mas quem as respeita? A própria torcida cobra a obediência à ética no jogo. E como isso tem importância! Imagine um juiz que favoreça um dos times, que deixe de apitar uma falta, que não se importe com as agressões em campo... Não digo que seja morte certa na saída, mas que será vaiado e xingado não tenham dúvidas. Para não falar de sua pobre mãe, o que terá de suportar... O torcedor exige observância das regras, durante a partida. No futebol burlar regras significa ser punido. Na política, nem sempre. Cadê a torcida fiscalizando? Cadê o povo cobrando e exigindo comportamento ético dos candidatos e dos eleitos? Quase não se vê. Preferível deixar prá lá... E assim se perpetua uma postura, um posicionamento perante uma realidade criticada por todos, mas que está pedindo uma ação, uma tomada de posição há muito tempo.
A ideia de que o futebol é um ótimo parâmetro para se analisar a política está exposta num artigo escrito pela filósofa Márcia Tiburi, na Revista Cult do mês de julho, sob o título “A ação e sua prostituição – a atualidade da Lei de Gerson e o futebol como pedagogia política”. Nele, a escritora discorre sobre a famosa Lei de Gerson, onde “o importante é levar vantagem em tudo”, que na verdade nada tem a ver com futebol, mas com uma campanha publicitária de uma marca de cigarros. Ela traça um paralelo entre futebol e política e também menciona o fato de que o jogador de futebol sempre terá de mostrar o que promete diante de sua torcida, que é bem mais complexa que a mera massa manipulada pela publicidade, no caso da política. É bem verdade que se ouve falar em corrupção entre patrocinadores dos times e no próprio primeiro escalão desse esporte. Mas fiquemos apenas com a imagem do campo de futebol, “único cenário da exposição da verdade de que ainda somos capazes”, segundo Marcia Tiburi, onde a torcida comparece para prestigiar e incentivar o seu time, e, em última análise, fiscalizar o que acontece.
Que tal se a política fosse uma arena, como um campo de futebol, e nós, o povo, fôssemos a torcida, atenta a cada lance, com a mesma atenção dedicada às jogadas dos craques, pronta para botar a boca no trombone? Aposto que as jogadas políticas seriam mais honestas e bem mais transparentes. E o medo da torcida?!
A ideia de que o futebol é um ótimo parâmetro para se analisar a política está exposta num artigo escrito pela filósofa Márcia Tiburi, na Revista Cult do mês de julho, sob o título “A ação e sua prostituição – a atualidade da Lei de Gerson e o futebol como pedagogia política”. Nele, a escritora discorre sobre a famosa Lei de Gerson, onde “o importante é levar vantagem em tudo”, que na verdade nada tem a ver com futebol, mas com uma campanha publicitária de uma marca de cigarros. Ela traça um paralelo entre futebol e política e também menciona o fato de que o jogador de futebol sempre terá de mostrar o que promete diante de sua torcida, que é bem mais complexa que a mera massa manipulada pela publicidade, no caso da política. É bem verdade que se ouve falar em corrupção entre patrocinadores dos times e no próprio primeiro escalão desse esporte. Mas fiquemos apenas com a imagem do campo de futebol, “único cenário da exposição da verdade de que ainda somos capazes”, segundo Marcia Tiburi, onde a torcida comparece para prestigiar e incentivar o seu time, e, em última análise, fiscalizar o que acontece.
Que tal se a política fosse uma arena, como um campo de futebol, e nós, o povo, fôssemos a torcida, atenta a cada lance, com a mesma atenção dedicada às jogadas dos craques, pronta para botar a boca no trombone? Aposto que as jogadas políticas seriam mais honestas e bem mais transparentes. E o medo da torcida?!
sábado, 7 de agosto de 2010
Pai! Simplesmente Pai!
Pode parecer estranho, mas para nós, mulheres, não é muito fácil falar sobre os pais. Não me refiro às homenagens pelo Dia dos Pais, elogios, críticas, comparações e tudo mais. Isso tudo é “café pequeno”, tiramos de letra. Falar da “instituição” pai é que nos põe a pensar um pouco. Talvez, a lembrança de nosso próprio pai interfira, reavivando sentimentos e nos deixando meio parciais em nossas reflexões. É bem provável que esta seja apenas a minha opinião sobre o assunto, com a qual ninguém é obrigado a concordar. Mas, a sociedade eleva quase sempre a mãe à condição de heroína do lar (o que não deixa de ser real, às vezes). Aos pais é destinado um papel coadjuvante, participativo sim, mas com funções ditas diferentes da feminina. Mesmo os mais modernos que assumiram sozinhos as tarefas domésticas, a criação e a educação dos filhos, ainda estes padecem do estigma de estarem exercendo o papel da mãe e não desempenhando o seu próprio papel. Ser pai nos dias de hoje, virou uma tarefa mais humana do que era há anos atrás. Até a legislação modificou-se para dizer “poder familiar” onde antes se falava em “pátrio poder”, retirando a exclusividade do pai como chefe da família e promovendo a igualdade de responsabilidades entre pai e mãe, com relação aos filhos. Isto, entre muitas outras coisas, fez com que a figura do pai se tornasse mais próxima dos filhos. E levou os filhos, por sua vez, a se sentirem mais amigos do pai e menos como entes subalternos. Porém, existem mágoas, relações mal resolvidas e sentimentos que não se conseguiram expressar por toda uma vida, que vem confundir os relacionamentos entre pais e filhos. A vida moderna trouxe consigo outros questionamentos, outras necessidades. Não se vislumbra mais na pessoa do pai apenas a figura do provedor do sustento, já que a mãe também foi à luta em igualdade de condições. O pai pode assumir com certa tranquilidade o seu lugar como aquele que conta histórias e ouve segredos; aquele que se importa com o bem estar físico e psicológico do filho; aquele que sugere, aponta caminhos, mas deixa o filho livre para escolher; aquele que, acima de tudo, dá o que de mais precioso um filho pode querer: o seu próprio exemplo de vida. Aquele que ensina a dignidade acima de tudo, o amor ao próximo; que faz ver que o mundo vai além da própria família, esta como fundamento, mas que não se esgota em si mesma. Assim, são mais presentes. E mais felizes os pais e os filhos. Parabéns a todos os pais!!!
domingo, 1 de agosto de 2010
Crônica de um amor genuíno
O ano era 1973. Os tempos eram difíceis e meio sombrios. Mas não para nós, alunos da 6ª série “A” da Escola Normal Coronel Genuíno Sampaio. O soar da campainha e a sineta da dona Leda colocavam fim ao primeiro ato – o encontro antes da aula, no pátio da escola. Filas formadas, devidamente fiscalizadas pela dona Leda e pelo Dotta, o temido diretor do colégio, na época, dirigíamo-nos para a sala de aula, palco dos demais atos do espetáculo.
A sala de aula de nossas 6ª, 7ª e 8ª séries, foi o palco do início de nossas vidas. Ali aprendemos como ninguém a arte da amizade, descobrimos os primeiros segredos do amor, sofremos muito com o que achávamos serem as dificuldades e desilusões da vida, mas na verdade eram apenas as primeiras experiências da juventude.
Na adolescência vestida de US Top, a calça azul e desbotada que você podia usar do jeito que quisesse, tivemos todos os sonhos possíveis, muitas vezes interrompidos, é claro, pelos sermões inesquecíveis dos professores nos chamando de volta à realidade.
Passaram-se três anos de nossas vidas, com pressa de que chegasse logo o fim. Todos os dias, ao final das aulas, víamos desfilar diante de nós todos os acontecimentos da tarde e do dia. As lições, as conversas, as coisas que não davam certo, as conquistas. E ficávamos pensando: como seria o futuro? Mal sabíamos que esse tal de “futuro” chegaria mais depressa do que poderíamos imaginar.
Hoje somos muito mais do que adultos. Temos nossas profissões e nossas famílias, trabalhamos e vivemos a vida que escolhemos prá nós. Mas ainda somos alunos. A vida agora é nossa professora. Podemos dizer, sem medo de errar, que tudo o que aprendemos depois do Genuíno foram acréscimos. Sim, porque o fundamento de tudo, o princípio do conhecimento, a base da convivência, foi ali que aconteceu, naquelas tardes onde ficávamos loucos para ver o tempo passar mais depressa. Ah! Se soubéssemos, o que hoje sabemos... Que o futuro chegaria tão rápido assim, e que agora já é passado...
Um por um dos professores nos deixaram um pouco do significado do saber e do aprender. Um por um dos colegas, agora já amigos, ensinaram alguma coisa sobre as relações humanas.
O Genuíno esteve de aniversário: completou 75 anos. Então, o que são e o que foram três anos? Para nós foi muito. Realizamos um encontro, no dia 30 de julho de 2010, para relembrar os velhos tempos e conversar sobre os rumos que a vida nos fez tomar. Nem todos puderam comparecer, mas haverão outras oportunidades e fizemos um pacto para trazer os faltosos e convidar a participar também os colegas de outras turmas.
Foi emocionante. Não há outra palavra para definir. Ver todas aquelas pessoas conversando, como se tivessem se despedido há uma semana e não há mais de trinta anos, foi algo inesquecível. As memórias de todos, muito boas, pois muitas histórias foram tiradas do fundo do baú. A dona Leda tocando a sineta e fazenda a chamada, antes do jantar; os pequenos depoimentos de cada um, segurando as lágrimas, como o Jaison; todos cantando a música "Amigos para sempre" acompanhando a Nana Bernardes, que gentilmente aceitou nosso convite para colocar música em nossas recordações... Ah! e os cadernos de "recordações" que apareceram... Tudo foi motivo para o clima alegre e a boa energia que se sentiu durante o encontro.
É feliz aquele que tem boas histórias para contar e, com certeza, nós as temos. É feliz aquele que, olhando para trás pode se sentir agradecido a Deus por ter amigos e tantas lembranças a compartilhar. Coelho Neto diz, com inspiração:
“A casa da saudade chama-se memória: é uma cabana pequenina a um canto do coração.”
A sala de aula de nossas 6ª, 7ª e 8ª séries, foi o palco do início de nossas vidas. Ali aprendemos como ninguém a arte da amizade, descobrimos os primeiros segredos do amor, sofremos muito com o que achávamos serem as dificuldades e desilusões da vida, mas na verdade eram apenas as primeiras experiências da juventude.
Na adolescência vestida de US Top, a calça azul e desbotada que você podia usar do jeito que quisesse, tivemos todos os sonhos possíveis, muitas vezes interrompidos, é claro, pelos sermões inesquecíveis dos professores nos chamando de volta à realidade.
Passaram-se três anos de nossas vidas, com pressa de que chegasse logo o fim. Todos os dias, ao final das aulas, víamos desfilar diante de nós todos os acontecimentos da tarde e do dia. As lições, as conversas, as coisas que não davam certo, as conquistas. E ficávamos pensando: como seria o futuro? Mal sabíamos que esse tal de “futuro” chegaria mais depressa do que poderíamos imaginar.
Hoje somos muito mais do que adultos. Temos nossas profissões e nossas famílias, trabalhamos e vivemos a vida que escolhemos prá nós. Mas ainda somos alunos. A vida agora é nossa professora. Podemos dizer, sem medo de errar, que tudo o que aprendemos depois do Genuíno foram acréscimos. Sim, porque o fundamento de tudo, o princípio do conhecimento, a base da convivência, foi ali que aconteceu, naquelas tardes onde ficávamos loucos para ver o tempo passar mais depressa. Ah! Se soubéssemos, o que hoje sabemos... Que o futuro chegaria tão rápido assim, e que agora já é passado...
Um por um dos professores nos deixaram um pouco do significado do saber e do aprender. Um por um dos colegas, agora já amigos, ensinaram alguma coisa sobre as relações humanas.
O Genuíno esteve de aniversário: completou 75 anos. Então, o que são e o que foram três anos? Para nós foi muito. Realizamos um encontro, no dia 30 de julho de 2010, para relembrar os velhos tempos e conversar sobre os rumos que a vida nos fez tomar. Nem todos puderam comparecer, mas haverão outras oportunidades e fizemos um pacto para trazer os faltosos e convidar a participar também os colegas de outras turmas.
Foi emocionante. Não há outra palavra para definir. Ver todas aquelas pessoas conversando, como se tivessem se despedido há uma semana e não há mais de trinta anos, foi algo inesquecível. As memórias de todos, muito boas, pois muitas histórias foram tiradas do fundo do baú. A dona Leda tocando a sineta e fazenda a chamada, antes do jantar; os pequenos depoimentos de cada um, segurando as lágrimas, como o Jaison; todos cantando a música "Amigos para sempre" acompanhando a Nana Bernardes, que gentilmente aceitou nosso convite para colocar música em nossas recordações... Ah! e os cadernos de "recordações" que apareceram... Tudo foi motivo para o clima alegre e a boa energia que se sentiu durante o encontro.
É feliz aquele que tem boas histórias para contar e, com certeza, nós as temos. É feliz aquele que, olhando para trás pode se sentir agradecido a Deus por ter amigos e tantas lembranças a compartilhar. Coelho Neto diz, com inspiração:
“A casa da saudade chama-se memória: é uma cabana pequenina a um canto do coração.”
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