Ser advogado é muito mais que só fazer petições e ir a audiências. Também é. Mas não se esgota por aí. É desempenhar um papel social, interagindo com a comunidade. Chamar a sociedade ao debate e à reflexão. Buscar, constantemente, o equilíbrio entre direitos e deveres. Ter um envolvimento com as causas que se quer defender.
Ao exercer a advocacia, entramos na vida e na intimidade de outras pessoas. Isso pressupõe respeito mútuo e ética nas relações. Para o advogado é “apenas” trabalho, mas para a pessoa que o procura é, muitas vezes, toda a sua vida. Vida que chegou numa encruzilhada ou que sofreu um percalço. Há muito mais por detrás da satisfação dessa necessidade do que uma simples prestação de serviços contratada. É onde se vislumbra uma solução, uma esperança de ter de volta algum direito afrontado, para que a vida siga seu curso normal. O advogado para tanto empresta as armas de que dispõe: seu conhecimento da lei, sua disposição de entrar em confrontos quando falham todas as demais tentativas de solução e sua persistência em alcançar a Justiça.
“Ad vocatus” é a expressão em latim da qual deriva o vocábulo “advogado”. Significa o que foi chamado. No Direito romano indicava a terceira pessoa que o litigante chamava perante o juízo para falar a seu favor ou defender o seu interesse.
Além disso, a advocacia vem imbuída de toda uma participação na busca da cidadania, de uma sociedade mais justa e mais fraterna, função esta que foi destacada pelo ex-presidente nacional da OAB, Hermann Assis Baeta, com a seguinte frase: “o advogado é, antes de tudo, um cidadão que não fica à margem, acima ou abaixo da conceituação destinada ao ser político”.
sábado, 27 de março de 2010
sexta-feira, 19 de março de 2010
“Devagar se vai ao longe” ou “ao divagar se vai longe”?
Parece um jogo de palavras. São duas colocações. A primeira expressão é um ditado bastante conhecido “devagar se vai ao longe”, nos reportando à paciência que necessitamos ter com certas coisas, se queremos, de fato, vê-las se concretizar ou acontecer.
A outra expressão “ao divagar se vai longe” nos remete a algo bem diferente: a como nossos pensamentos podem nos levar a conclusões, interpretações e até perspectivas, sonhadoras ou não, de nossa realidade. Em comum, além da semelhança na sonoridade, a distância a ser percorrida até encontrarmos o fim. As divagações podem nos fazer viajar de olhos fechados (ou bem abertos), sem sair do lugar, para muito longe. O tema se presta a mais deduções, querendo insinuar que damos às coisas a interpretação que queremos... Como a mesma frase ou a mesma atitude podem soar diferentes para uma e para outra pessoa, que delas se apropria, atribuindo-lhes diferentes significados a partir de suas experiências e valores.
Podemos explorar ou expandir os assuntos até o infinito, devagar ou divagar, mas é prudente evitarmos a dispersão. Senão acabaremos, como se diz, “viajando na maionese” e não chegaremos a lugar algum. Lembro-me de repente de uma música que diz “longe se vai, sonhando demais, mas onde se chega assim?” Então, esta é a grande questão: onde chegar, o que buscar?
E é assim que precisamos ser e ter objetivos, na vida. Porque mesmo devagar é preciso saber qual a direção a seguir, a nossa direção. E divagar... Bem, divagar é preciso às vezes...
A outra expressão “ao divagar se vai longe” nos remete a algo bem diferente: a como nossos pensamentos podem nos levar a conclusões, interpretações e até perspectivas, sonhadoras ou não, de nossa realidade. Em comum, além da semelhança na sonoridade, a distância a ser percorrida até encontrarmos o fim. As divagações podem nos fazer viajar de olhos fechados (ou bem abertos), sem sair do lugar, para muito longe. O tema se presta a mais deduções, querendo insinuar que damos às coisas a interpretação que queremos... Como a mesma frase ou a mesma atitude podem soar diferentes para uma e para outra pessoa, que delas se apropria, atribuindo-lhes diferentes significados a partir de suas experiências e valores.
Podemos explorar ou expandir os assuntos até o infinito, devagar ou divagar, mas é prudente evitarmos a dispersão. Senão acabaremos, como se diz, “viajando na maionese” e não chegaremos a lugar algum. Lembro-me de repente de uma música que diz “longe se vai, sonhando demais, mas onde se chega assim?” Então, esta é a grande questão: onde chegar, o que buscar?
E é assim que precisamos ser e ter objetivos, na vida. Porque mesmo devagar é preciso saber qual a direção a seguir, a nossa direção. E divagar... Bem, divagar é preciso às vezes...
Cruzamento perigoso
Pare, olhe, cheire! E ouça também, se conseguir... Reféns de um progresso que nos causa danos e transtornos ao invés de proporcionar conforto e satisfação, ainda tentamos experimentar o mundo ao nosso redor com a simplicidade de nossos sentidos. Pouco provável que se consiga. Nas ruas, se não tropeçamos nos produtos expostos nas calçadas, corremos o risco de engasgar com a fumaça e a fuligem do ar. E se quisermos nos queixar ou apenas confidenciar a alguém nosso infortúnio, só gritando, pois o carro de som que anuncia a boa nova oferta (alguém quer saber?) está com o botão do volume emperrado... no máximo. O diálogo? Foi prás cucuias. O barulho dos shoppings, das praças de alimentação, tornam impossivel qualquer tentativa de conversa entre as pessoas. É insuportável. Mesmo em casa quase não se pode ouvir a voz do outro. Música alta de vizinhos “desligados”, buzinas exageradas, trânsito maluco ao lado de outdoors por todo lado, lixo no meio das ruas e calçadas, e nos dizemos civilizados? Até quando vamos suportar? Até quando o planeta vai agüentar tanta agressão? Depois ficamos questionando o porque do stress, das doenças e da baixa qualidade de vida. Parafraseando um jargão antigo: ou o planeta acaba com a poluição ou a poluição acaba com o planeta. E conosco também.
sexta-feira, 12 de março de 2010
A MULHER DO SÉCULO XXI
A mulher dos nossos dias trabalha, dirige empresas, estuda, pilota aviões, atua na política, representando o povo e governando cidades e nações. Coisas normais, para quem já nasceu numa época em que tudo isso pode ser feito sem a autorização de pais, maridos ou irmãos. Na verdade, são conquistas, são bandeiras carregadas por muitas e por muito tempo. A mulher atual ainda ama, constitui família, e, pasmem, tem filhos e os cria, tentando torna-los cidadãos de verdade. Simplesmente um ser humano, nem mais nem menos do que o seu companheiro de jornada.
Mas mulher também tem lado “B”. O lado que sonha. E sonha com sonhos quem sabe até impossíveis. E se deixa levar por devaneios, ou talvez se dê o direito de vislumbrar outro mundo, outros sentires, algo que lhe soe ideal. Algo que não seja sua realidade diária, suas infinitas obrigações, seus deveres, suas atribuições de mulher maravilha. Imagina futuros tão diferentes e tão presentes...
Aliás, não quer ser mulher maravilha, quer apenas ser feliz. E ser feliz é um sonho, muitas vezes alcançado apenas no lado “B” da vida...
Mas mulher também tem lado “B”. O lado que sonha. E sonha com sonhos quem sabe até impossíveis. E se deixa levar por devaneios, ou talvez se dê o direito de vislumbrar outro mundo, outros sentires, algo que lhe soe ideal. Algo que não seja sua realidade diária, suas infinitas obrigações, seus deveres, suas atribuições de mulher maravilha. Imagina futuros tão diferentes e tão presentes...
Aliás, não quer ser mulher maravilha, quer apenas ser feliz. E ser feliz é um sonho, muitas vezes alcançado apenas no lado “B” da vida...
quarta-feira, 10 de março de 2010
Lembranças de "O Ferrabraz"
Chegávamos cedo todos os dias. Tudo era datilografado. Na era digital em que vivemos é bom explicar que datilografar era “escrever à máquina”. As páginas do Jornal “O Ferrabraz”, no final da década de 1970, eram montadas em enormes folhas de desenho, o original bem maior que a publicação. O nome do periódico, talvez uma homenagem ao morro que emoldura e guarda a cidade.
Antes de começar a sessão nostalgia, um pouquinho de História, para nos localizarmos. O jornal “O Ferrabraz” teve duas fases. O esclarecimento histórico a seguir, baseado em texto escrito por Daniel Luciano Gevehr, foi extraído de pesquisa publicada na revista eletrônica “Protestantismo em Revista”, do Núcleo de Estudos e Pesquisas do Protestantismo (NEPP) da Escola Superior de Teologia. Diz ele que “a primeira fase começa com sua fundação, em 1º de dezembro de 1949, sob a direção de Guilherme José Powolny, nascido na Alemanha, no ano de 1904. Powolny veio para o Brasil com apenas quatro anos de idade, vivendo grande parte de sua juventude em Porto Alegre. Tipógrafo de profissão, Powolny foi diretor e proprietário da Gráfica Sapiranga Ltda. e também diretor do jornal O Ferrabraz. Porém, o fato de ser estrangeiro, obrigou-o, por motivos legais, a colocar oficialmente outra pessoa como proprietário oficial de seu jornal. Esta pessoa foi Leopoldo Luís Sefrin (filho de Leopoldo Sefrin)”. Assim, “durante dez anos, Powolny, Nordhausen e Tito Lima foram os responsáveis pela edição mensal do jornal, que contava ainda com a colaboração de pessoas do local e tinha como filosofia, “publicar as notícias de interesse coletivo da população de São Leopoldo. ” E continua: “A segunda fase do jornal corresponde ao período em que Olival Monteiro assumiu sua direção.” Isto ocorreu em 1961 e a partir deste momento, o jornal passa a ser quinzenal. Foi editado até o ano de 1969, quando teve suas edições encerradas por motivo de censura e somente reaberto em 1975.
As lembranças a que se refere o título deste artigo tem a ver justamente com esta segunda fase, quando a publicação já era semanal. As notícias, quentíssimas, chegavam ou eram buscadas direto na fonte das mais variadas maneiras. O nosso fotógrafo oficial e repórter, também esportivo, entre outras atribuições, era um caso à parte. Tinha um fusca vermelho equipado com um radioamador PX e uma enorme antena atrás que era uma atração na cidade. Não conseguia chegar discretamente a lugar algum. Uma pela vistosa antena, e outra pelo ronco da fusqueta, que era qualquer coisa de anormal (isso quando pegava). Era o Valdir Pedro de Oliveira (por onde andará?), muitos devem lembrar. Dedicava quase duas páginas do jornal ao time da cidade o “Associação”, dando notícias e resultados de jogos e tecendo intermináveis comentários.
A equipe jornalística da época era formada, ainda, pela Ivete Bissoni, chefe de redação e responsável pela parte social, pela Denise Maria Dias, que acumulava as funções de angariar publicidade e repórter policial, marcando presença na Delegacia de Polícia da Sapiranga. Imaginem quantas ocorrências nos anos 70... Tinha também a Zélia da Silveira, diagramadora (na base da tesoura e cola mesmo) e eu, que era a digitadora oficial das laudas (matérias e textos), e já utilizava então uma moderna máquina IBM elétrica, com corretivo. O proprietário do jornal, Olival Monteiro, como administrador de visão, sempre nos deixava à vontade para trabalhar. Nós, a equipe, é que decidíamos a pauta do jornal, o tema a que daríamos mais ênfase, qual seria a “manchete”da capa. Ele delegava bem as tarefas a cada um, o que nos oportunizou crescimento pessoal e profissional. Sua base era no escritório de contabilidade ao lado do jornal. Mesmo ausente fisicamente da redação, ele se fazia presente através da marca que imprimia na condução do jornal. Olival mandava o editorial toda semana, no qual a Ivete e eu sempre tínhamos que dar nossos pitacos, pois ele privilegiando a expressão de idéias, atropelava o português, segundo a nossa ótica. Quando chegava quarta-feira, dia de fechar o jornal, todos faziam de tudo: a Denise digitava, a Zélia fotografava, o Valdir vendia publicidade de última hora, eu diagramava e redigia, e a Ivete lia e relia tudo para ver se não faltava (ou sobrava) algo. Tinha ainda o Jadir Jara, que era o entregador, mas metia a mão na massa junto conosco. Terminado o sufoco, conferido o conteúdo, as fotos e a publicidade e inseridas as últimas notícias da semana, tínhamos ainda a árdua missão de levar os originais, de ônibus, até São Leopoldo, onde eram entregues ao motorista de outro ônibus que os levava até Venâncio Aires, local em que era realizada a impressão do jornal (em off-set). Na sexta-feira de manhã estava pronto para circular (vejam que levava mais de um dia para rodar a impressão, hoje se faz em poucas horas). Era preciso chegar mais cedo ainda neste dia, para colocar de próprio punho o nome dos assinantes e providenciar a distribuição do jornal que era feita pelo Olinto Monteiro, em sua Variant verde limão e às vezes pelo Toninho. Tudo tinha que estar entregue até o meio dia.
Ali se plantou um pouco a semente da comunicação em Sapiranga. Muitas eram as críticas, até porque existia um jornal na cidade vizinha que não era diário ainda, mas saía três ou quatro vezes por semana, então as nossas notícias quase sempre já estavam meio defasadas na sexta-feira. Mas, considerando-se que nem existia celular, até que a gente era bem atualizado...
Hoje, com o advento da informática e outras tecnologias quase tudo mudou. Digo quase, porque mudou a estrutura, a tecnologia, mas a paixão de quem trabalha com jornalismo continua a mesma. Vejo que o pessoal continua a suar a camiseta, a falar com entusiasmo das coisas, das matérias, da profissão enfim. São herdeiros de uma época em que se trabalhava por paixão mesmo, pois só assim para enfrentar tantas contrariedades.
Aos poucos fomos mudando, tomando outros caminhos, a vida exigia. Ficou a lembrança daqueles bons tempos. Vimos nascer o vôo livre na Cidade das Rosas, as festas das rosas eram realizadas de dois em dois anos, tudo devidamente documentado e noticiado. Assistimos à explosão da indústria calçadista, época da chegada de muitíssimos dos hoje habitantes de Sapiranga, vindos de diversas regiões do estado. Quase todos se conheciam e por isso o jornal era mais uma confirmação daquilo que a cidade vivenciava. Digno de lembrança também o 1° concurso estadual de dança - Dancing Days - época do John Travolta. O jornal foi o idealizador, organizou e promoveu em conjunto com Clube 19 de Julho. Foi um sucesso total. Semanas e semanas de concurso, quando pessoas da região compareciam à boate Embarkasom aos sábados para participar ou apreciar o concurso. Fomos até a um programa de televisão de Porto Alegre para fazer a divulgação O concurso culminou com um grande baile no salão principal do Clube, quando foi escolhido o casal vencedor.
A Biblioteca Pública Municipal guarda, ainda hoje, em seus arquivos alguns exemplares do Jornal “O Ferrabraz” daqueles tempos. Se alguém tiver interesse, poderá matar sua curiosidade indo até lá e dando uma olhada.
Feliz aquele que tem boas histórias para contar. Nós temos. É maravilhoso poder compartilhar um pouco destas recordações no aniversário de 55 anos da cidade, pois um povo que não valoriza a sua própria história perde uma oportunidade única de aproveitar as lições do passado, vislumbrando um futuro melhor, construído no presente.
Antes de começar a sessão nostalgia, um pouquinho de História, para nos localizarmos. O jornal “O Ferrabraz” teve duas fases. O esclarecimento histórico a seguir, baseado em texto escrito por Daniel Luciano Gevehr, foi extraído de pesquisa publicada na revista eletrônica “Protestantismo em Revista”, do Núcleo de Estudos e Pesquisas do Protestantismo (NEPP) da Escola Superior de Teologia. Diz ele que “a primeira fase começa com sua fundação, em 1º de dezembro de 1949, sob a direção de Guilherme José Powolny, nascido na Alemanha, no ano de 1904. Powolny veio para o Brasil com apenas quatro anos de idade, vivendo grande parte de sua juventude em Porto Alegre. Tipógrafo de profissão, Powolny foi diretor e proprietário da Gráfica Sapiranga Ltda. e também diretor do jornal O Ferrabraz. Porém, o fato de ser estrangeiro, obrigou-o, por motivos legais, a colocar oficialmente outra pessoa como proprietário oficial de seu jornal. Esta pessoa foi Leopoldo Luís Sefrin (filho de Leopoldo Sefrin)”. Assim, “durante dez anos, Powolny, Nordhausen e Tito Lima foram os responsáveis pela edição mensal do jornal, que contava ainda com a colaboração de pessoas do local e tinha como filosofia, “publicar as notícias de interesse coletivo da população de São Leopoldo. ” E continua: “A segunda fase do jornal corresponde ao período em que Olival Monteiro assumiu sua direção.” Isto ocorreu em 1961 e a partir deste momento, o jornal passa a ser quinzenal. Foi editado até o ano de 1969, quando teve suas edições encerradas por motivo de censura e somente reaberto em 1975.
As lembranças a que se refere o título deste artigo tem a ver justamente com esta segunda fase, quando a publicação já era semanal. As notícias, quentíssimas, chegavam ou eram buscadas direto na fonte das mais variadas maneiras. O nosso fotógrafo oficial e repórter, também esportivo, entre outras atribuições, era um caso à parte. Tinha um fusca vermelho equipado com um radioamador PX e uma enorme antena atrás que era uma atração na cidade. Não conseguia chegar discretamente a lugar algum. Uma pela vistosa antena, e outra pelo ronco da fusqueta, que era qualquer coisa de anormal (isso quando pegava). Era o Valdir Pedro de Oliveira (por onde andará?), muitos devem lembrar. Dedicava quase duas páginas do jornal ao time da cidade o “Associação”, dando notícias e resultados de jogos e tecendo intermináveis comentários.
A equipe jornalística da época era formada, ainda, pela Ivete Bissoni, chefe de redação e responsável pela parte social, pela Denise Maria Dias, que acumulava as funções de angariar publicidade e repórter policial, marcando presença na Delegacia de Polícia da Sapiranga. Imaginem quantas ocorrências nos anos 70... Tinha também a Zélia da Silveira, diagramadora (na base da tesoura e cola mesmo) e eu, que era a digitadora oficial das laudas (matérias e textos), e já utilizava então uma moderna máquina IBM elétrica, com corretivo. O proprietário do jornal, Olival Monteiro, como administrador de visão, sempre nos deixava à vontade para trabalhar. Nós, a equipe, é que decidíamos a pauta do jornal, o tema a que daríamos mais ênfase, qual seria a “manchete”da capa. Ele delegava bem as tarefas a cada um, o que nos oportunizou crescimento pessoal e profissional. Sua base era no escritório de contabilidade ao lado do jornal. Mesmo ausente fisicamente da redação, ele se fazia presente através da marca que imprimia na condução do jornal. Olival mandava o editorial toda semana, no qual a Ivete e eu sempre tínhamos que dar nossos pitacos, pois ele privilegiando a expressão de idéias, atropelava o português, segundo a nossa ótica. Quando chegava quarta-feira, dia de fechar o jornal, todos faziam de tudo: a Denise digitava, a Zélia fotografava, o Valdir vendia publicidade de última hora, eu diagramava e redigia, e a Ivete lia e relia tudo para ver se não faltava (ou sobrava) algo. Tinha ainda o Jadir Jara, que era o entregador, mas metia a mão na massa junto conosco. Terminado o sufoco, conferido o conteúdo, as fotos e a publicidade e inseridas as últimas notícias da semana, tínhamos ainda a árdua missão de levar os originais, de ônibus, até São Leopoldo, onde eram entregues ao motorista de outro ônibus que os levava até Venâncio Aires, local em que era realizada a impressão do jornal (em off-set). Na sexta-feira de manhã estava pronto para circular (vejam que levava mais de um dia para rodar a impressão, hoje se faz em poucas horas). Era preciso chegar mais cedo ainda neste dia, para colocar de próprio punho o nome dos assinantes e providenciar a distribuição do jornal que era feita pelo Olinto Monteiro, em sua Variant verde limão e às vezes pelo Toninho. Tudo tinha que estar entregue até o meio dia.
Ali se plantou um pouco a semente da comunicação em Sapiranga. Muitas eram as críticas, até porque existia um jornal na cidade vizinha que não era diário ainda, mas saía três ou quatro vezes por semana, então as nossas notícias quase sempre já estavam meio defasadas na sexta-feira. Mas, considerando-se que nem existia celular, até que a gente era bem atualizado...
Hoje, com o advento da informática e outras tecnologias quase tudo mudou. Digo quase, porque mudou a estrutura, a tecnologia, mas a paixão de quem trabalha com jornalismo continua a mesma. Vejo que o pessoal continua a suar a camiseta, a falar com entusiasmo das coisas, das matérias, da profissão enfim. São herdeiros de uma época em que se trabalhava por paixão mesmo, pois só assim para enfrentar tantas contrariedades.
Aos poucos fomos mudando, tomando outros caminhos, a vida exigia. Ficou a lembrança daqueles bons tempos. Vimos nascer o vôo livre na Cidade das Rosas, as festas das rosas eram realizadas de dois em dois anos, tudo devidamente documentado e noticiado. Assistimos à explosão da indústria calçadista, época da chegada de muitíssimos dos hoje habitantes de Sapiranga, vindos de diversas regiões do estado. Quase todos se conheciam e por isso o jornal era mais uma confirmação daquilo que a cidade vivenciava. Digno de lembrança também o 1° concurso estadual de dança - Dancing Days - época do John Travolta. O jornal foi o idealizador, organizou e promoveu em conjunto com Clube 19 de Julho. Foi um sucesso total. Semanas e semanas de concurso, quando pessoas da região compareciam à boate Embarkasom aos sábados para participar ou apreciar o concurso. Fomos até a um programa de televisão de Porto Alegre para fazer a divulgação O concurso culminou com um grande baile no salão principal do Clube, quando foi escolhido o casal vencedor.
A Biblioteca Pública Municipal guarda, ainda hoje, em seus arquivos alguns exemplares do Jornal “O Ferrabraz” daqueles tempos. Se alguém tiver interesse, poderá matar sua curiosidade indo até lá e dando uma olhada.
Feliz aquele que tem boas histórias para contar. Nós temos. É maravilhoso poder compartilhar um pouco destas recordações no aniversário de 55 anos da cidade, pois um povo que não valoriza a sua própria história perde uma oportunidade única de aproveitar as lições do passado, vislumbrando um futuro melhor, construído no presente.
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