Uma vírgula é uma parada estratégica dentro de uma frase. Para “puxar” o ar e continuar a leitura, diziam as professoras de português. Diferente do ponto, que finaliza uma idéia, a vírgula permite a continuação.
Quem leu o livro “O vendedor de sonhos”, de Augusto Cury, vai lembrar de uma passagem em que um dos personagens tentou desistir da própria vida. Outro personagem lhe chama à realidade, fazendo-o voltar à razão e mudar de idéia. Para explicar esta mudança o segundo personagem esclarece que vendeu ao primeiro “apenas uma vírgula”, para que ao invés de colocar um ponto final em sua trajetória no mundo, este desse uma parada para ponderar e continuasse a escrever sua história pessoal.
Achei muito interessante e fiquei pensando em quantas vírgulas deixamos de colocar e quantos pontos finais utilizamos precocemente... Ou, ao contrário, quantos pontos deixamos de colocar, prolongando situações que já deveriam ter terminado há muito tempo. Aquelas pendengas que se arrastam no tempo, sem solução, e que só causam desgaste nos envolvidos bem que careciam de um ponto final. Há outras coisas, situações ou momentos que, de verdade, precisariam ir mais além, portanto, necessitariam apenas de uma pausa, a vírgula.
Então, parte da sabedoria talvez consista em saber quando colocar pontos finais e onde usar a vírgula. Por vezes, precisamos olhar muito bem, sentir, analisar: é momento de pausa? Ou já será o fim? Quem sabe, quem poderá saber? Talvez a pessoa que se encontre na posse de sua própria vida tenha noção disso. É estranho falar assim, mas são tantas as situações em que se deixa ao arbítrio de outros as decisões que devemos tomar, ou ações que devemos empreender, sem pontuar a vida de acordo com as nossas próprias necessidades e desejos. Ou porque sempre foi assim, ou porque não temos coragem de ser diferentes, deixamos de viver e de agir com medo do que virá.
Acabamos como um texto sem ponto e sem vírgula, misturando idéias, e por mais bonitas que sejam as palavras empregadas, estão desconectadas entre si, sem um significado, sem rumo. A velha e boa coerência ainda vale. Nos textos e na vida.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
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