O que dizer? Que bom seria se refletir pelo Dia do Trabalho nos levasse a uma resposta perfeita. Muitas análises e estudos foram feitos ao longo dos tempos, para explicar a evolução e a importância do trabalho. Na história da humanidade, muitas vezes o trabalho foi tido como castigo. Por isso, vem associado, algumas vezes, a aborrecimento.
O trabalho pode ser entendido a partir dos conceitos econômico, filosófico e jurídico. O conceito econômico de trabalho, na visão de Francesco Nitti, é “toda energia humana empregada tendo em vista um escopo produtivo”. Filosoficamente falando, trabalho vem a ser toda atividade realizada em proveito do homem. É todo o esforço humano, consciente e voluntário, no sentido de realizar um fim de interesse do homem. E o conceito jurídico, formulado por Carlos Alberto Barata e Silva, refere que “é a atividade humana aplicada à produção”, sendo que esta atividade deve ser prestada em favor de outro sujeito, em troca de uma retribuição, de modo a importar numa relação jurídica entre os dois sujeitos. Nesta relação bilateral, intersubjetiva, repousa a importância do trabalho para o Direito.
Se, porventura, for encarado apenas como um meio de sobrevivência, de tirar o sustento, pode vir a ser comparado com sacrifício. Contudo, verifica-se que pelo trabalho o homem desempenha o seu grande papel, o de transformar, criar e realizar. Todo o progresso alcançado até hoje pela humanidade é fruto do trabalho. A estagnação, a falta de trabalho traz desesperança e humilhação. A força presente em todas as criaturas humanas clama por aproveitamento. É uma oportunidade de crescimento, uma lei da natureza.
Poetas já escreveram versos dedicados ao tema, como Gonzaguinha: “Um homem se humilha se castram seu sonho, seu sonho é sua vida e a vida é trabalho. E sem o seu trabalho, um homem não tem honra. E sem a sua honra se morre, se mata. Não dá pra ser feliz... Não dá prá ser feliz...”
Não dá mesmo.
sexta-feira, 30 de abril de 2010
quarta-feira, 21 de abril de 2010
A fogueira das vaidades
Não basta sermos bons. Temos que ser os melhores. Não basta estarmos bem, temos que estar acima da média, com todos os olhares e atenções voltados em nossa direção. O ser humano é engraçado, para não dizer outra coisa. Busca sempre a superação, mas dói quando o outro também o faz. E dói mais quando o outro alcança um sucesso que não obtivemos. Não queremos muita concorrência, só aquela necessária a manter as comparações e, de preferência, quando o título “the best” for nosso. Detestamos que alguém elogie o outro mais do que a nós, daí desdenhamos e diminuímos aquele, para que chegue ao nosso nível. Ver os defeitos, os erros, as dificuldades alheias, e propagá-las é uma prática bem comum. Quando rotulamos alguém por um erro ou uma falha, não deixamos que a evolução cumpra o seu papel e mostramos que nosso campo de visão não vai além do próprio umbigo. Quando nos colocamos acima dos outros, segundo nosso próprio julgamento, demonstramos nada mais do que pretensão e uma boa dose de arrogância. Querer ser despojado e se incomodar com o sucesso do outro é algo francamente duvidoso. Oportunidades, todos tem. Alguns aproveitam, outros desperdiçam e outros, ainda, correm atrás...
E se a justiça fosse o equilíbrio entre as relações?
O processo judicial deveria ser a última instância para restabelecer um direito violado ou restaurar a justiça. Contudo, vemos com certa freqüência, por qualquer pequena desavença, por algum descontentamento, ou por as coisas não correrem da forma como se gostaria, as pessoas dizerem sem papas na língua: “te meto um processo”. Algumas vezes, sequer tenta-se a conversação para sanar um desentendimento. Prova disso são as inúmeras questões resolvidas na primeira audiência, a tal de tentativa de conciliação. Precisa chegar na frente de um juiz para entrar num acordo? O que impedia o entendimento antes? Falta de quem conduzisse ou intermediasse o assunto? Teimosia mesmo? Ou alguém estava realmente querendo levar alguma vantagem sobre o outro? Nesse caso, temos também aqueles que se escondem por trás do que sabem ser a morosidade da Justiça para dizer “vá procurar seus direitos”.
E o Judiciário, a cada dia mais abarrotado de processos, movimenta enorme estrutura, que envolve trabalho humano, material, tempo e dinheiro. Aí, muitas vezes, o pai ausente, o vizinho briguento, aqueles que burlam a lei, ganham um tempo a mais para cumprirem suas obrigações. Enquanto isso, processos e mais processos aguardam o andamento, a apreciação do Judiciário na vala comum com tantos outros. Não quero dizer com isso que o processo é desnecessário. Não! Pelo contrário, o processo legal é imprescindível e, muitas vezes, o único meio possível para defender e garantir direitos afrontados, restaurar a ordem e cumprir procedimentos que a lei exige. Contudo, litigar por litigar, parece algo que, ao invés de solucionar, cria entraves.
Não me interpretem mal, colegas advogados. Nós, mais do que ninguém, sabemos o quanto podemos contribuir para o deslinde de uma questão, sem precisar ingressar com o processo judicial, desde que usemos o bom senso e tentemos sinceramente conduzir um acordo. Certamente há casos em que não há outra solução. Mas há outros tantos, que não precisariam bater às portas do Judiciário. Aí se instala uma discussão quase filosófica, porque tem a ver com o senso de justiça e de responsabilidade de cada um. Tem a ver com a correta acepção dos termos “direitos” e “deveres”, onde um não existe isolado do outro. Existe a contrapartida. A cidadania quando exercida traria como conseqüência o equilíbrio entre as relações. Digo traria, pois ainda vemos que o ideal está longe de ser alcançado. Mas que o acesso à Justiça seja um direito legitimamente exercido.
E o Judiciário, a cada dia mais abarrotado de processos, movimenta enorme estrutura, que envolve trabalho humano, material, tempo e dinheiro. Aí, muitas vezes, o pai ausente, o vizinho briguento, aqueles que burlam a lei, ganham um tempo a mais para cumprirem suas obrigações. Enquanto isso, processos e mais processos aguardam o andamento, a apreciação do Judiciário na vala comum com tantos outros. Não quero dizer com isso que o processo é desnecessário. Não! Pelo contrário, o processo legal é imprescindível e, muitas vezes, o único meio possível para defender e garantir direitos afrontados, restaurar a ordem e cumprir procedimentos que a lei exige. Contudo, litigar por litigar, parece algo que, ao invés de solucionar, cria entraves.
Não me interpretem mal, colegas advogados. Nós, mais do que ninguém, sabemos o quanto podemos contribuir para o deslinde de uma questão, sem precisar ingressar com o processo judicial, desde que usemos o bom senso e tentemos sinceramente conduzir um acordo. Certamente há casos em que não há outra solução. Mas há outros tantos, que não precisariam bater às portas do Judiciário. Aí se instala uma discussão quase filosófica, porque tem a ver com o senso de justiça e de responsabilidade de cada um. Tem a ver com a correta acepção dos termos “direitos” e “deveres”, onde um não existe isolado do outro. Existe a contrapartida. A cidadania quando exercida traria como conseqüência o equilíbrio entre as relações. Digo traria, pois ainda vemos que o ideal está longe de ser alcançado. Mas que o acesso à Justiça seja um direito legitimamente exercido.
sábado, 10 de abril de 2010
Política X Poesia
Política não é poesia. Mas poderia ser. Por que tantos se arrepiam e até tem calafrios quando se fala em política? Dá medo só de pensar na dita cuja. Quando deveria ser o contrário, os homens de bem deveriam ser atraídos por ela. Epa, então a política é feita por homens maus? Bem... Vejamos. É que muitos que enveredaram por estas sendas, não souberam honrar o voto de confiança que receberam. Simplória, assim, a explicação? Nem tanto. A política, a boa política, anda meio esquecida. O que se tem visto por aí é o resultado de atos de maus políticos. Daqueles que, investidos de um poder que julgam divino, esquecem o motivo pelo qual foram escolhidos e quem representam. E, ao esquecer, cometem crimes de toda ordem, deixam faltar escolas e hospitais, desviam recursos, aceitam propinas, promovem o favorecimento de seus pares. A verdadeira política pode, sim, ser poética. O filósofo Aristóteles ensinava, em 1252 aC, que política é a ciência que tem a felicidade humana como objeto. Quer algo mais poético que a felicidade humana?
terça-feira, 6 de abril de 2010
Humildade
A reverência feita entre os participantes Dourado e Dicesar, no último sábado, no programa BBB10, da rede Globo, foi um momento que emocionou. Mesmo não sendo o programa mais recomendável para se assistir, o ato simbólico serviu como exemplo digno de ser seguido. Depois de se digladiarem por semanas a fio, acolhendo sugestão do apresentador Pedro Bial, os dois como os antigos lutadores japoneses ficaram frente a frente e se curvaram um ao outro, num sinal de respeito, humildade e perdão. Podem falar mal do programa, eu também falo às vezes, mas a cena foi bonita. Lembrou que todos são iguais e que, não importa quem vença, ao final dos combates a vida continua.
Nada impede que se reconheça o valor do adversário e, muito mais importante, que se reconheça que mesmo tendo motivações diferentes, não podemos deixar a arrogância ditar as regras de nosso comportamento. Quantas coisas seriam evitadas, quantas lutas desnecessárias, se as pessoas soubessem cultivar a humildade. “Ninguém é mais do que ninguém e nem menos”, disse em sua crônica da semana passada o Adão Martins. Foi o que pregou o sacerdote na missa de Domingo de Ramos, quando em sua homilia relembrou que Jesus entrou na cidade de Jerusalém montado num jumento e não em um brioso cavalo. O jumento significa humildade, obediência, mansidão. O maior homem do mundo, uma pessoa humilde. A humildade é reverência pelo Universo, pelo outro ser humano. No yoga existem posturas que ensinam e representam a humildade. É verdade que anda meio esquecida nesses tempos de tanta pomposidade, de aparências, onde se vale mais quando se é muito importante do que quando se é apenas humano...
Uma pausa para refletir e recomeçar, é o que nos proporciona a Semana Santa. Um momento de introspecção. Que possamos parar alguns minutos essa correria louca iniciada no final do ano passado, atravessando todo o verão, as férias, o início de ano e o carnaval. É chegada a hora de se colocar a caminho mais uma vez, se possível com as forças renovadas. E com a consciência de que a humildade é, sim, uma virtude.
Nada impede que se reconheça o valor do adversário e, muito mais importante, que se reconheça que mesmo tendo motivações diferentes, não podemos deixar a arrogância ditar as regras de nosso comportamento. Quantas coisas seriam evitadas, quantas lutas desnecessárias, se as pessoas soubessem cultivar a humildade. “Ninguém é mais do que ninguém e nem menos”, disse em sua crônica da semana passada o Adão Martins. Foi o que pregou o sacerdote na missa de Domingo de Ramos, quando em sua homilia relembrou que Jesus entrou na cidade de Jerusalém montado num jumento e não em um brioso cavalo. O jumento significa humildade, obediência, mansidão. O maior homem do mundo, uma pessoa humilde. A humildade é reverência pelo Universo, pelo outro ser humano. No yoga existem posturas que ensinam e representam a humildade. É verdade que anda meio esquecida nesses tempos de tanta pomposidade, de aparências, onde se vale mais quando se é muito importante do que quando se é apenas humano...
Uma pausa para refletir e recomeçar, é o que nos proporciona a Semana Santa. Um momento de introspecção. Que possamos parar alguns minutos essa correria louca iniciada no final do ano passado, atravessando todo o verão, as férias, o início de ano e o carnaval. É chegada a hora de se colocar a caminho mais uma vez, se possível com as forças renovadas. E com a consciência de que a humildade é, sim, uma virtude.
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