Transcrevo dois textos que li em diferentes momentos e que apresentam duas realidades. Encontrei-os, recortados e bem guardados, e quando os li novamente, com o olhar amadurecido pelo tempo, percebi o quanto tinham em comum, na medida em que tratam da solidão humana sob ângulos opostos, mas nem por isso impossível de encontrar entre eles um elo que nos faça refletir sobre a nossa natureza humana.
Primeiro texto: “Vivemos, agimos e reagimos uns com os outros; mas sempre e sob quaisquer circunstâncias, existimos a sós. Os mártires penetram na arena de mãos dadas; mas são crucificados sozinhos. Abraçados, os amantes buscam desesperadamente fundir seus êxtases isolados em uma única auto transcendência; debalde. Por sua própria natureza, cada espírito, em sua prisão corpórea, está condenado a sofrer e gozar em solidão. Sensações, sentimentos, concepções, fantasias – tudo isso são coisas privadas e, a não ser através de símbolos, e indiretamente, não podem ser transmitidas.” (Aldous Huxley, em As portas da percepção e céu e inferno).
Segundo texto: “Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra. Se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso, não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.” (John Donne, no livro Por Quem os Sinos Dobram).
E daí que: Já dizia o poeta Mário Quintana, “viajar é mudar o cenário da solidão”. E é. Nascemos sós e morremos sós. No meio disso nos iludimos de que estamos acompanhados. De fato, podemos até estar, mas isso não nos retira da solidão. O único diálogo verdadeiro é aquele que temos com o nosso eu. As maiores batalhas que travamos são interiores. Das janelas da alma, vemos tudo e tudo percebemos. E a partir daí, interagimos. Então, trocamos solidões. E ao trocar solidões encontramos o nosso semelhante. No semelhante vislumbramos nossa própria vida e descobrimos o quanto estamos interligados pelo simples fato de existirmos. E que cada ato nosso, ação ou reação vem a influenciar quem está ao nosso lado. Influenciando, somos responsáveis...
sábado, 23 de abril de 2011
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