segunda-feira, 7 de março de 2011

Verdades de mentirinha

Quem já não respondeu com um automático “tudo bem” à também automática pergunta “oi, tudo bem?” Temos ainda as variantes: “se melhorar estraga”, “tudo joia”, “vai se levando...” Ok, é uma simples saudação; a pessoa que cumprimenta a outra precisa dizer alguma coisa cordial e esta introdução de perguntas e respostas é quase perfeita. Só para ilustrar, eu também faço isso. Ocorre que o perguntador nem sempre quer saber com detalhes, se tudo está bem mesmo com o interrogado. E a pessoa que responde, nem sempre está disposta a esmiuçar o porquê de não estar “tudo bem”, caso não esteja. Deste jeito, vamo-nos habituando a pequenas invenções, apenas para manter uma sociabilidade. O perigo reside no “automático”. Em fazer as coisas só por fazer, não se aprofundando ou não dando a mínima para se o outro está ou não em dificuldades. “Problemas? Já tenho os meus.” Então, ouvimos e sorrimos, ou sorrimos sem ouvir e a vida segue. Quantas vezes deixamos que o piloto automático, a falta de tempo ou de paciência conduzam nossos diálogos. É custoso parar um minuto e desenvolver um assunto que não seja quantificado: Que horas são? Quantos dias faltam? Quando é que aconteceu? Quanto custa? A resposta a estas perguntas pressupõe uma rapidez e uma exatidão que impedem o avançar dos diálogos. No máximo quer se obter as informações. O resto é “conversa”... O indefectível “será que vai chover?”, ainda rende alguma comunicação, superficial que seja, mas rende.
É que o “como se sente?”, “o que você acha?” e “qual a sua opinião sobre o assunto?” exigem tempo. Um tempo de que não dispomos, pois tudo é urgente. Tempo é um artigo precioso. Tempo é dinheiro e é valioso demais para que seja aproveitado com pormenores, com explicações ou atenções demasiadas. Muito menos com divagações. Será verdade? E aquela conversa despretensiosa, relaxante e porque não dizer gostosa, ainda existe? A expressão “jogar conversa fora” tem sido levada ao pé da letra e ninguém quer perder nada, muito menos tempo. Mas ao ganharmos tempo, perdemos amizades. Perdemos oportunidades de nos enxergarmos como pessoas e não como máquinas. Perdemos a chance de viver, pois nem tudo na vida são respostas a quesitos preestabelecidos. Há respostas que demandam olhar para dentro de si. Principalmente as mais verdadeiras.

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