segunda-feira, 28 de março de 2011

Baú de fotografias

Quase todo mundo tem, se não for um baú, uma caixinha bem guardada com fotos de tempos antigos, onde o registro fotográfico era muito mais do que uma simples distração. Com as câmeras digitais à nossa disposição, a nova geração não sabe muito bem o que significa segurar entre as mãos um pedaço de papel contendo uma parte de nossa vida que ficou pra trás. E folhar álbuns de recordação onde as cores desbotadas dão o tom de nossas lembranças é algo até curioso. Vou propor uma experiência. Quer dizer, é mais um exercício do que uma experiência. Tente procurar e encontrar a sua foto mais antiga. Pode ser uma foto de quando você era criança. Olhe bem para ela, converse com a foto. E pergunte a você mesmo, o que estaria pensando aquela pessoa da foto se visse você hoje, em todo o contexto em que se encontra. Eu fiz isso e posso dizer que foi interessante. Encontrei uma caixa de fotos bem amareladas, que trouxeram de volta imagens de minha infância. Como tenho boa memória, não foi difícil me localizar nos contextos das épocas retratadas. Claro, não se pode exigir que todos se lembrem do que se passava há vinte, trinta anos atrás. Mas o exercício é você se comparar (sim, porque não?) àquela pessoinha que você era há tanto tempo e fazer, então, a perguntinha fatal: será que eu estaria feliz comigo mesmo, naquela ocasião, sabendo que seria hoje o que sou? E antes que queiram me internar de vez, explico melhor. É que um dia desses, recebi uma mensagem daquelas que circulam na internet, abordando a vida do escritor português José Saramago, com trechos de suas obras e algumas citações. Lá pelas tantas, há uma frase dele que diz assim: “Tentei não fazer nada na vida que envergonhasse a criança que fui”. Quem sou eu para interpretar Saramago... Mas me veio à mente, na questão das fotos, esta frase que me fez pensar justamente naquilo que nos tornamos com o passar do tempo e no tanto de fidelidade que guardamos com aquela criança, que com certeza vive dentro de nós.

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