domingo, 20 de fevereiro de 2011

A mais bela flor

Tem uma casinha em uma esquina da praia de Presidente que é a coisa mais fofa do mundo. Nela mora um senhor de seus setenta e tantos anos ou talvez mais. Mora de vez em quando, no verão. Seguidamente fica sentado, à frente da casa, tomando seu chimarrão, quase sempre sozinho. Às vezes, uma ou outra pessoa, talvez um neto ou um amigo lhe faça companhia. Mas muito raramente. Em anos passados, ele era visto todo arrumado, banho tomado, cabelo penteado e roupa no capricho, saindo em seu carrinho, quem sabe para ir dançar em algum baile da melhor idade. Muitas filhas de mães viúvas olhavam para o velho senhor, com o olho esticado: “bem que seria uma boa companhia para minha mãe...” Neste ano, antes de sua chegada à praia, a casa e o terreno estavam meio descuidados. Por um bom tempo, tudo fechado, o mato tomando conta. De repente, a grama apareceu cortada, as árvores podadas, a cerca foi refeita, a casa pintada e o jardinzinho bem cuidado. Ele sempre teve o costume de pintar flores na casa (é, flores). Desta vez, porém, pintou a casa de cores neutras e flores (muitas flores) na parede do muro alto que fica em um dos lados da morada. Entre o colorido das flores pintadas no muro, deixou uma parte sem desenhos e escreveu em letras quase garrafais: “Tu és a mais bela dentre todas essas flores.” Uau! Isso chamou a atenção dos que passavam por ali em direção da praia. O velhinho está apaixonado – era esse o comentário, entre sorrisos, de quem olhava todo o capricho daquele pedacinho de chão. Ou estaria ele passando uma “cantada” em alto estilo em todas as mulheres que transitavam por ali? Sim, porque ele continuava a tomar seu mate solito. Apenas notava-se que não se descuidava do trato pessoal, sempre bem ajeitadinho, alinhado que dava gosto. Um dia de manhã, ao voltar da caminhada à beira mar, percebi que, em frente àquela casa, uma vendedora de toalhas conversava com duas pessoas. Uma delas, o velho senhor. Junto dele, lá estava ela: “a mais bela flor” tinha chegado. Uma senhora também já entrada em anos, de uma delicadeza e de uma singeleza de sensibilizar o coração mais endurecido... Um jeito de quem sabe o que a vida ainda pode lhe oferecer, uma dignidade e ao mesmo tempo um ar de sapeca se misturavam naqueles semblantes matinais... Se o amor existe na terceira idade, era ali que estava morando naquele momento. Tudo fez sentido, de repente. A preparação, as flores, a mensagem, a espera, a chegada da bem amada e aquela alegria estampada no olhar de ambos. Não pude deixar de voltar, depois, e retratar essa imagem, que elegi como uma das mais lindas declarações de amor que alguém já fez. Linda, porque singela... Gravada na simplicidade de um muro, com traços feitos de esperança, na intenção de saudar aquela que viria para alegrar o jardim e encher de vida os dias quentes de verão de um velho e solitário mateador.

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