Meio de vez em quando, vou dar uma caminhada no “valão”. Daquelas prá tentar colocar o físico em forma e espairecer um pouco. Nessa época primaveril mais pessoas tem tido a mesma idéia. E aí, quem caminha só, pode ouvir aqui e ali comentários, pedaços de conversas, enfim, é inevitável ouvir um pouco de tudo. Numa dessas, no domingo à tarde quando andei por lá, passaram por mim duas mulheres e não pude deixar de escutar uma frase dita por uma delas: “o que é que ela tem de mais, do que eu não tenho?”. Foi uma frase carregada de emoção, dita com certa angústia, lá do fundo da alma, e foi isso que me chamou a atenção. Se não me equivoquei em minhas conclusões, tratava-se do final de um relacionamento, onde uma procurava consolo no ombro da amiga, queixando-se de ter sido trocada por outra.
Como a divagação também é uma ginástica (mental), fiquei a imaginar que este é um típico caso a vir parar nos escritórios de advocacia. E fiquei pensando o que nós, advogados, poderíamos fazer numa situação dessas? Partilha de bens, guarda de filhos e pensão alimentícia são quase que fórmulas matemáticas. Já vem preestabelecido na Lei o que cabe a cada um, os direitos e obrigações de cada qual. Basta termos um pouco de habilidade para conduzir um acordo, ou senão ingressar com a competente ação judicial.
Mas o que fazer com o coração partido? O que dizer para esta pessoa que saiu ferida em sua auto estima e que talvez ainda não esteja conseguindo olhar com isenção para os motivos que culminaram nesse desenlace?
Psicólogos e terapeutas, socorro! Um profissional do Direito, mesmo que seja muito bem treinado em mediação familiar ou nas artes de aconselhamento, não conseguirá atingir o âmago, o “x” da questão. Não porque não queira, mas porque sua matéria prima de trabalho é a lei, a proteção de direitos e a solução juridicamente possível para a questão.
Resta a interrogação, a pergunta não respondida. O que ela tem? O que eu não tenho? Como se pudesse existir uma única resposta certa para tudo... Como se alguém tivesse o poder de apresentar uma verdade incontestável que abrandasse o sofrimento...
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário