sexta-feira, 30 de julho de 2010

Quem tem razão?

Já se sabe que advogado não é Deus... (bom começo) e, portanto, não faz milagres. Mesmo assim, sempre é bom lembrar a quem ainda acredita na infalibilidade humana que uma coisa é você se julgar no direito de, e outra coisa é você ter realmente o direito a. Às vezes, não sei o que é pior, um amigo ou conhecido do cliente dando palpite jurídico ou as coisas inverossímeis que aparecem no cinema e na televisão, dando a ilusão de que tudo se resolve num passe de mágica. Assim como sempre tem um vizinho de plantão com uma receitinha nova para curar esta ou aquela doença, sempre tem alguém que conhece alguém que já teve um problema assim e resolveu assado, e esta seria a fórmula certa para tudo. Ora, assim como na Medicina é importante a participação do paciente na própria cura, no Direito também, o advogado para obter sucesso numa causa precisa da colaboração do cliente. Aquilo que inicialmente se deseja num processo judicial pode ser modificado por um conjunto de fatores, fatos novos e argumentos da parte contrária. Sim, ela existe, a parte contrária. E também quer ter direitos. Quer ter razão. E aí? Como fica? Dois advogados, duas posições, duas teses contraditórias entre si. Quem tem razão? Não se pode fechar os olhos e ignorar fatos relevantes. Na vida real não é como em filmes e novelas, em que de repente surge do nada uma testemunha salvadora, e adentra triunfal na sala de audiências, esclarecendo tudo. Nas ações nossas de cada dia, quando se alega alguma coisa há que se ter um mínimo de provas, isso é o básico. Uma bela e triste história sem comprovação não é nada no Direito, apenas mera alegação, por mais comovente que seja. É preciso que se busque sempre o equilíbrio das relações, a coerência, a verdade real dos fatos. Dizer o que o cliente quer ouvir, nem sempre resolve as coisas. Às vezes, o remédio é amargo, mas necessário. Existem regras que devem ser respeitadas, etapas a serem cumpridas, detalhes que precisam de atenção. É imprescindível a confiança, clareza e transparência pautando a relação entre cliente e advogado. Sem isso é difícil realizar um bom trabalho.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Poetizando com a lógica do existir

A amizade é um mistério. Não tem uma explicação lógica duas pessoas de repente, ou de longa data, terem tanto em comum, que se entendam mesmo sem palavras. Ou apesar das palavras... Gostos iguais, interesses comuns, empatia, o que será? Teorias e retóricas, canções e poemas pretendem elucidar e traduzir a amizade. Talvez não consigam mais do que um tênue retrato do sentimento entre amigos. Ficar à vontade na presença de alguém, poder rir ou chorar, falar qualquer coisa séria ou banal, conversar amenidades ou tentar salvar o mundo, tudo isso cabe na amizade. Tem existências que nos fazem mais felizes, nos fazem querer ser pessoa melhor. Fazem soar dentro de nós alegrias, despertam a coragem esquecida e as claridades internas, pela simples necessidade de viver. Há existências que nos fazem sonhar... E sonhando com o impossível, partimos mundo afora, procurando longe de nós a vida que sonhamos possível. Mas ela está aí, bem ao nosso lado, ao nosso alcance. É só abrir os olhos do coração...

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Eternamente em cima do muro

Tem gente que não se posiciona nunca. Não se compromete, não escolhe, não se expõe e nada faz que possa lhe ser perguntado por quê. Talvez “por que” seja difícil explicar. Às vezes penso que as pessoas tem medo da transparência. Preferem ser enganadas, induzidas, ludibriadas. Senão, por que o espanto quando alguém anuncia com clareza seus propósitos políticos? Causa surpresa e outras reações, digamos assim, desfavoráveis... Será preferível que o “simpático” candidato seja “apenas” uma pessoa desinteressada, cordial e atuante, sem que sequer faça menção à palavra “política”? As pessoas não estão acostumadas à transparência de intenções e isso é preocupante. Preferem ver segundas intenções em tudo.
Se alguém fizer algo em caráter puramente social e voluntário, ainda assim é interpretado como gesto político. Como no caso de uma amiga que resolveu promover uma tarde de entretenimento para crianças de uma vila da periferia, com direito a distribuição de lanches e brinquedos. Não tinha nada a ver com política, era apenas algo voluntário, pelo simples fato de querer ajudar crianças necessitadas. Mesmo assim, ao final do evento vieram lhe perguntar: afinal de que partido político ela era? Minha amiga disse que perdeu o chão. Não era nada disso e ninguém entendeu. Logo quiseram ligá-la a uma sigla partidária. Mas, tivesse ela anunciado que era, sim, de algum partido político, certamente também não lhe faltariam críticas, pois iriam dizer que se tratava de promoção pessoal.
É algo para se pensar. Talvez as raízes disso estejam na forma como é vista a política no Brasil. Os políticos representam a classe profissional menos confiável, relatou uma recente pesquisa publicada em jornais de grande circulação no estado. Mas e não dá para mudar isso? Não é impossível, mas que é difícil, isso é. Imagino que as pessoas pensem: se já está anunciando agora que é político, o que fará depois? E eu repito a pergunta: sim, o que fará? A resposta que se espera é uma só: que faça política, política séria para a qual realmente tenha sido eleito. Enquanto persistirem estes pensamentos de que política e políticos não prestam (e, infelizmente, há razões de sobra para se pensar assim), não se estará dando chance a mudanças. Já houve muitas oportunidades, outros dirão, e grande parte delas frustradas. Pois é, e então? Vamos abandonar a democracia? Ou seria a hora de todos iniciarmos um processo de verdadeira politização? Aliás, a quem mesmo interessa a desilusão com a política? Não seria por acaso àqueles que querem se perpetuar no poder, ou àqueles a quem não interessa mudar o sistema? Não estou defendendo alguém específico. Embora seja minha profissão como advogada, defender alguém, estou no momento, defendendo uma ideia. Nunca fui muito ligada em política, não da maneira como se vê atualmente. Mas, desde sempre, me tenho por um ser político. Como todos nós.
Você aguenta uma opinião diferente da sua? Começa por aí...

sábado, 10 de julho de 2010

Os rótulos que usamos

Bonito ou feio. Caro ou barato. Novo ou velho. Será que não podemos viver sem rótulos? Será que valemos só pelo que aparentamos? Não pode ser. Seria muito “pequeno”. O que dizer sobre como me sinto, além de “bem” ou “mal”? Talvez os adjetivos estejam ocupando o lugar dos sentimentos. Porque estar bem ou estar mal, ser feio ou bonito esgota o assunto por um momento. Quando se trata de relações humanas, a riqueza interior da pessoa desaparece diante dos rótulos. Resumiu-se tudo. Pronto. Ele está bem. Isto é muito ruim. Aquilo é errado. E daí? Onde vamos chegar, se a conversa acaba no adjetivo? Não vamos desenvolver qualquer linha de pensamento, não vamos debater nada, porque “é” assim? Não se questiona, sequer, porque “é assim”? A vida fica muito simplificada. Mesmo nas ciências exatas o questionamento é necessário. A dúvida, a reflexão, a comparação, a troca e a discussão de idéias são fundamentais. Ver mais além do feio ou bonito, ou de qualquer atributo com que se possa qualificar alguém, é tão essencial como poder expressar um sentimento sem enquadrá-lo numa fórmula preestabelecida e esperada. É deixar fluir, saber compreender e se expressar para que o outro se sinta valorizado, humano, alguém com alguma importância além do imediatismo.