segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Viajar é...

Já dizia o poeta Mário Quintana que “viajar é mudar o cenário da solidão”. E é. Nascemos sós e morremos sós. No meio disso nos iludimos de que estamos acompanhados. De fato, podemos até estar, mas isso não nos retira da solidão. O único diálogo verdadeiro é aquele que temos com o nosso eu. As maiores batalhas que travamos são interiores. Das janelas da alma vemos tudo e tudo percebemos. E a partir daí, interagimos. Então, trocamos solidões. Viajei para ver minha vida de longe. Não vi de longe, vi de muito perto. Vi aquilo que realmente importa. Descobri que, de longe, se pode ver melhor, mas o que vai dentro de nós nos segue para sempre e para onde quer que vamos.
Viajei...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A ética e a sobrevivência

Vale tudo. Estamos num tempo em que ninguém mais respeita nada. Convicções, regulamentos, ideais e até sentimentos ficam em segundo plano. Tudo em nome da sobrevivência, ela sim vem em primeiro lugar. Alguém depende de mim? Problema dele. Eu dependo de alguém? Bem, aí a coisa muda de figura. Aí é preciso agradar... As coisas mudam e no politicamente correto tudo se espera. A mais valia ainda persiste e entenda-se por mais valia aquilo que me favorece de qualquer maneira, não só economicamente. Fica o dito pelo não dito, o que era ontem, já foi mesmo. Então para que?
Se posso manter as aparências, para que interiorizar? Ninguém está vendo. É burrice daquele que ainda acredita, pensar que o mundo está ficando ético. Só nas falácias. Quando os rótulos são bonitos, pouco importa o conteúdo ou a fórmula. O sorriso vem fácil quando se vislumbra um interesse, mas a cara feia e uma grande sobriedade tomam lugar quando o assunto é lealdade. E por debaixo do pano, o que pode e o que não pode fazer? Infinitas possibilidades. Um puxando o tapete do outro, esperando só uma brecha para ocupar o lugar daquele. Interesses ocultos comandam iniciativas e menospreza-se o poder de raciocínio dos simples mortais.
Os defeitos e pecados dos outros pulam aos olhos, mas eu? Eu não tenho defeitos! Quando muito, algumas dificuldades, mas todas justificáveis. E pecados, então, bem capaz! Se os tenho, ninguém vê porque estão devidamente disfarçados ou desculpados, sim porque para mim sempre há uma justificativa. E se justificativa não há, cria-se uma máscara de indignação, mas com a atitude alheia, “onde já se viu?”. Maquiados pelo belo discurso do “comigo não!” seguimos ditando regras, as nossas regras, sem esquecer de que todas elas são revisáveis no momento certo. E a ética, essa pobre senhora, já não sobrevive mais, perambula e, cambaleante, procura um alento, um abrigo, sem perceber que a humanidade também a persegue por caminhos outros que, quiçá, irão se cruzar.